«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, abril 03, 2006

52. A propósito de Abril, o estado de coisas na Madeira e o papel da comunicação social independente

David Strathairn como Edward R. Murrow no filme "Good Night, And Good Luck", ainda não estreado na Madeira. O Editorial de hoje do sr. Director do DN do Funchal constitui excelente motivo para postar mais uma bela fotografia do filme. Aqui fica a forma como entendi o referido texto. A ordem e totalidade do original pode ser sempre acedido por via do link facultado.


Repito o que disse em 17 de Março, a propósito do anterior Editorial do sr. Director do DN local. «Depois de vermos "Good Night, and Good Luck", pensa-se que está extinto o jornalismo guiado por causas e valores - democracia, liberdade, bem comum, coabitação de ideias e pontos de vista divergentes -, mas eis que que surge, localmente, um "murro na mesa", um grito de que "o rei vai nu", em nome da liberdade de imprensa, da democracia, do esclarecimento e interesse públicos.» Quando o Editorial de hoje fala de «quem faz o trabalho que competia a outros» está tudo dito. O jornalismo vê-se perante a sua grande responsabilidade na defesa do esclarecimento e interesse públicos. E em «outros» cabem muitos: desde quem governa a quem está na oposição, desde sindicalistas a ambientalistas, desde as forças vivas organizadas ao cidadão individualmente considerado. Pelos vistos, serão demasiados os que não andam a fazer o que lhes compete.

A propósito de Abril...
«Comemorar o 25 de Abril é cantar "o adeus"; e não "e depois do adeus". É cantar o fim da ditadura e o arranque para a abertura democrática. Pôr o cravo à lapela, recordar o cravo no tapa-chamas da G3 e trautear uns acordes do "Grândola Vila Morena" é comemorar a queda do regime anterior, na madrugada de 25; e não aplaudir acontecimentos e figurões de 30 anos de regime democrático

«Comemorar o pós-25 de Abril depende do gosto. Mas comemorar especificamente o 25 de Abril, golpe que derrubou a ditadura para instaurar a democracia, é outra coisa. O 25 de Abril não é o 28 de Setembro da Maioria Silenciosa, não é o 11 de Março dos spinolistas, não é o PREC dos SUV e do gonçalvismo, não é o 25 de Novembro de Eanes e dos anticomunistas. Também não é dos oportunistas que à conta da democracia somam dividendos substanciais. O 25 de Abril foi uma mudança de regime. O fim da Guerra Colonial, a morte da censura (que nos últimos meses está a ressuscitar). E pretendeu ser o definhar dos monopólios (hoje com novas versões democráticas), o termo da desigualdade de oportunidades. A reacção, como se dizia no PREC, tem sido persistente. Hoje estão recuperados os velhos costumes, com novas luzes. Mas não é isso que se comemora em Abril.»

«Quem não gostou do que aconteceu em 1974 aos ditadores de província e ainda não perdoou aos que operaram a mudança de regime pois que o assuma claramente, sem receio de se exprimir. O 25 de Abril também foi feito para isso

... o estado de coisas na Madeira...
«Quem aproveita a maioria de que dispõe para privar a população das comemorações de Abril não o faz porque sim. Trata-se de distrair - objectivo próprio de quem está no poder.»

«[E]is a discussão de Abril para ajudar a passar o tempo sem grandes congeminações ou reflexões. Os problemas de habitação não existem. Amiguismo e compadrio, mentira. Atentados ambientais como aterros de pasmar, despejos a céu aberto e aviários sem regras vá lá que estejam a acontecer, mas o tal "banditismo na serra" tem uma força que as autoridades não conseguem pôr-lhe cobro (veremos o que sai da visita dos quadros executivos e parlamentares aos locais do crime, em breve). Não se tem notícias de que a juventude esteja cada vez mais abandonada à sua sorte. Se a Justiça que se pratica é uma vergonhosa injustiça, também não é falando no assunto que se vai mudar o mundo. Há por aí umas riquezas construídas da noite para o dia; pois não sejamos invejosos.»

«Pode afigurar-se negro e tenebroso o tempo que se desenha acolá à frente no horizonte, o futuro de todos quantos um dia serão velhos, mas falar disso é bota-abaixo. A atmosfera é de tal forma anestesiante que o governo não precisa de governar nem a oposição de fiscalizar e levantar questões sérias. Enquanto houver jackpot para todos, a coisa vai andando à conta de Deus, viva a festa todo o ano. Não é o que se leva desta vida?»

... e o papel da comunicação social independente
«Os problemas reais que surgem na comunicação social motivam imediata reacção de desmentidos e de ataques abjectos a quem faz o trabalho que competia a outros. O tempo não é de desestabilizarMais uma vez, só faltava dizer "good night, and good luck".

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