........................... Inexistentes ou indisponíveis
É uma questão fulcral. O presidente do Governo solidifica um argumento de peso para convencer o eleitorado a votar no PSD, em 2008: entende que o maior partido da oposição «não tem pessoas qualificadas para pegar na Madeira» (Diário, 20.01.2006). Mas a dificuldade não toca só à oposição. Há quem lembre que o partido maioritário não consegue encontrar sucessor para o actual líder regional que, segundo o destacado social-democrata madeirense Virgílio Pereira, «persegue qualquer tipo de sombra que lhe possa surgir, mesmo que seja a do passarinho no galho da árvore à beira dele» (Revista Diário, 21.01.2006). É a grande tentação de quem comanda: impedir o natural crescimento de potenciais líderes que tomem o lugar, seja por esta ou aquela razão. Cria-se um deserto à volta, estratégia denominada de «política do eucalipto».
Foi a forma que o líder encontrou para contornar alguns males endémicos («inveja», «gosto pelo maldizer», «não distinção entre qualidade e mediocridade, entre o principal e o acessório») e manter a unidade. Se certas pulsões individuais tivessem terreno era a confusão na sociedade madeirense, com uma mentalidade por revolucionar e uma engelhada cultura de cidadania e convivência democrática, habituada a rédea curta e a ter um pai, dominada por meia-dúzia de famílias e pelo interesse pessoal. A Madeira corria o risco de se tornar ingovernável. Mas há o reverso da medalha da estabilidade e unidade política à custa de uma mão de ferro. Haverá uma crise, mais tarde ou mais cedo, ao ser parido um outro quadro político. O parto quanto mais adiado mais abrupto e doloroso será.
Trinta anos consecutivos de maiorias absolutas mirrou a oposição, que também se deixou mirrar, muitas vezes arrastada, por alguns, para caminhos secundários para servir o interesse pessoal, um infestante endémico. Perante a dinâmica avassaladora do partido que governa a Madeira, num período de entrada de fundos, realização de muita obra, distribuição de muito subsídio e uma liderança carismática e omnipresente, foram muitos os que, racionalmente, acharam melhor afastar-se da acção política, para evitar o desgaste sem vitórias, isto é, fazer uma penalizadora travessia do deserto.
Será que a oposição, em especial o PS, será capaz de convencer o eleitorado que tem condições para governar e vencer em 2008? Ora, a equipa de «pessoas qualificadas» capazes de governar a Madeira teria de surgir nos próximos tempos na oposição. E não basta um líder. É preciso uma equipa. O líder do PSD está convencido que isso não acontecerá no campo da oposição. Bem conhece a Madeira e a dificuldade de conseguir quadros competentes para a área governativa. Por isso, há secretários e directores regionais que se mantêm desde há décadas no Governo.
Há especialistas em gestão que defendem que as lideranças não devem prolongar-se por mais de dez anos, porque se acomodam, esgotam e impedem a natural renovação de ideias e projectos e impedem o aparecimento de novos talentos. Se na Madeira já existe pouca escolha, a cristalização dos mesmos nos cargos diminuem essa escolha/surgimento de quadros. Quebra-se o ciclo natural. Ficar agarrado aos lugares não é ecológico. O sangue não gira.
A insularidade tem limitações. Há uma cultura de mediania e pouca exigência. O ambiente é pouco competitivo. As oportunidades são escassas, os estímulos são limitados, o espaço para as pessoas crescerem e progredirem é reduzido. Para mais ajudas, a boa moeda nem sempre expulsa a má moeda. Ainda para mais ajudas, há essa cultura nacional da mediocridade: a cultura do bloqueio e do pequeno interesse pessoal conduzem ao nivelamento por baixo. Num país corrupto, a ascensão profissional e social resulta, genericamente falando, não da competência mas, sobretudo, de outros factores. O empenho e a competência são encarados como ameaça porque, geralmente, os piores ascendem, mandam e passam a vida a olhar para o lado, a ver quem passa à frente. Não se quer que os serviços funcionem melhor. Tudo se submete à gestão de poderes, cargos, carreirismo, mordomias, influências. Numa palavra, o interesse imediato, o interesse pessoal.
Disse Manoel de Oliveira (Visão, 14.11.2002), sobre os portugueses: «Eles não querem ser melhores do que tu, o que não querem é que tu sejas melhor do que eles». Ao ver passar um carro de luxo um americano diz "ainda hei-de ter um carro daqueles", enquanto um português diz para o dono do carro: "ainda hás-de andar a pé como eu." É a cultura da inveja, da não ambição, do bloqueio, da mediocridade. Tudo isto contradiz os discursos e a dita cultura do mérito, que inclusive se quer ensinado nas escolas.
Como se sabe, na Madeira, os últimos 30 anos nem sempre ajudaram a promover as pessoas de maior potencial. O domínio do cartão partidário para dar acesso a oportunidades e a carreiras cortou as pernas a muita gente capaz. Deliberadamente. Perderam-se qualidades, ideias e projectos. Porque interessa, sobretudo, de quem se trata e não as capacidades ou a qualidade das ideias e dos projectos. Os lugares estão marcados. Foi-se criando um deserto à volta da esfera governativa. Até na oposição. Até nos sindicatos. Até nas associações. São sempre os mesmos. Não cresceu nem se renovou quase nada à volta. A grande árvore fez sombra em redor. Os pecados apontados à governação PSD foram mimetizados e replicados em outras esferas da sociedade. É a natureza humana no instinto de sobrevivência e da manutenção do poder.
As eleições de 2008 ficarão decididas com os nomes que a oposição, em especial o PS, venham a apresentar para formar governo. Há muita gente convencida que não haverá capacidade de mobilização desses quadros com competência e credibilidade inquestionável. Serão interessantes, politicamente, 2007 e 2008, apesar de "ninguém" apostar em surpresas, mesmo que pequenas.
Óptima análise! Como diria o americano ainda vou ser capaz de fazer o mesmo!
ResponderEliminarO seu exemplo e de alguns outros, felismente ou infelismente sem qualquer ligação partidária, permitem alguma esperança. Aparentemente alguns madeirenses conseguiram fugir à influência esterilizadora do "sistema".
Suspeito que as pessoas que o conseguiram fazer não se sintam motivadas a ter uma participação activa na política regional até porque já perderam aquele idealismo (ingenuidade) que seria necessário.Por sua vez os dirigentes políticos que têem vivido estes anos todos numa certa mediocridade temem o aparecimento de eventuais opositores internos.
Olá Nélio,
ResponderEliminarQual o critério de selecção de publicação de posts/ comentários? A mesma linha de pensamento do post original?
Filipe Pinto
Viva.
ResponderEliminarNão percebi a razão da dúvida, mas é óbvio que o critério nunca poderia ser de apenas publicar os comentários na mesma linha de pensamento. Mais valia fechar o blogue se não fosse um espaço público e democrático. Seria monocórdico, totalitário e fugiria ao princípio da livre discussão pública («expressão na potência máxima de vida»).
Os comentários são todos publicados, inclusive anónimos, havendo ponderação, unicamente, se for materializada uma difamação ou ofensa pessoal, colocando em causa a honra e o bom nome de terceiros, algo que nunca aconteceu até agora, que é de louvar, pela maturidade cívica que fica demonstrada. A regra de bom senso é expressar aquilo que dita a consciência, com honestidade intelectual, e que podemos assumir publicamente.
Há comentários opostos aos pontos de vista expressos neste blogue. Por exemplo, estou a lembrar-me das questões respeitantes à Educação (professores) ou ao recorde do Guinness atribuído ao fogo-de-artifício da Madeira.
Haver comentários concordantes ou não concordantes, relativamente ao que aqui se publica, depende apenas de quem, por livre iniciativa, decide comentar. O espaço de comentários é aquilo que os comentaristas fizerem dele.
Saudações.
Olá Nélio,
ResponderEliminarColoquei a dúvida do critério de publicação dos posts porque "postei" um que não surgiu publicado. Não difamei ninguém! Apenas manifestei discordância quanto a uma ideia presente no teu texto, que aliás reitero parcialmente...
Olá Nélio,
ResponderEliminarA razão do esclarecimento suscitado deve-se ao facto de ter "postado" um comentário que não foi alvo de publicação. Nesse "post" manifestei alguma discordância quanto a uma das tuas ideias. Ou seja, partilho parcialmente das opiniões expressas.
Bom trabalho,
Filipe Pinto
Viva.
ResponderEliminarDeve ter havido qualquer falha ou erro na submissão do comentário porque aqui (tanto no blogue como no email, para onde são também direccionados os comentários) nunca havia antes chegado um comentário assinado por Filipe Pinto. Uma falha do Blogger poderá ser hipótese, o que não acredito. Posso, no entanto, questioná-los sobre essa possibilidade remota.
Apenas me resta convidar ao reenvio desse comentário.
Saudações.