Como a vida

Brad Pitt em Babel (2006)

Depois de ver Babel de Alejandro González Iñárritu e The Departed de Martin Scorsese, não há dúvidas que, apesar de ambos serem excelentes filmes, se Hollywood não tivesse uma dívida com o realizador de origem italiana Babel teria sido o filme mais premiado.

Babel é mais original na trama e mais verosímil. Prova disso é o facto de manter o espectador numa tensão permanente, por vezes sufocante, durante todo o filme. O efeito de real ou realismo coloca-nos na pele das várias personagens, vivemos com elas os seus problemas, preocupamo-nos e tememos o que lhes possa acontecer. O efeito deve-se ao facto de tudo estar contado de forma que acreditamos que os eventos podem ocorrer em qualquer lugar, em qualquer vida, a qualquer um. Babel imita a vida com mestria. É uma metáfora da vida. O realizador "brinca" com a consciência que temos de a nossa vida estar sempre presa por um fio. Nada está seguro, tudo é efémero. O acaso prega-nos as partidas mais inesperadas. Um acontecimento pode transformar uma vida feliz num pesadelo. Babel aplica-se ainda ao mundo em que vivemos, ameaçado pelo terrorismo, dividido pelas línguas, raça, dinheiro e religião. É preciso que as pessoas comuniquem de facto e criem pontes em vez de erguer barreiras entre si.

The Departed é um filme competente, de grande nível, mais um clássico no que toca à abordagem da temática do crime organizado. Tem boas doses de emoção e suspense, mas toda a trama não nos faz acreditar que pode acontecer com facilidade na vida comum de todos os dias: o efeito de verosimilhança não vai tão longe como em Babel. Mas, há quem pense o contrário.

Leonardo DiCaprio, Ray Winstone, Jack Nicholson em The Departed (2006)