«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, junho 09, 2007

É preciso resistir

Espanta o Sindicato dos Professores da Madeira preparar-se para aderir à CGTP-IN, com um sim de 80% dos professores sindicalizados?

O sindicalismo e os sindicatos, na actual conjuntura, parecem algo de odioso e inútil. Para que servem se a ordem mundial já ditou tudo? Se tudo está decidido? Se está tudo justificado? Se tudo é vendido como inevitável?

Instala-se um fatalismo cívico preocupante. Parece (querem-nos fazer sentir) que não vale a pena lutar e que só há um caminho possível. Remeter-se ao silêncio e à carga. Encolher os ombros. Aceitar sem questionar, sem resistir, sem dizer não ou basta.

Negociar? Da perspectiva de quem manda não há nada a negociar (nem compromissos a atingir) ou então há apenas aspectos de pormenor, ninharias, peanuts. Para muitos os sindicatos são dispensáveis... Chegam a parecer seres extra-terrestres porque não estão alinhados com a ordem (neoliberal e neoconservadora) mundial. Destoam da "realidade" que é vendida e criada às pessoas.

O papel do sindicalismo é também destoar. De resistir a quem quer o caminho todo livre e com máxima desregulação. Há quem procure apenas uma coisa: a ausência de regras para explorar e lucrar à farta. Para fazer de Portugal um país mais desigual, com pobres de um lado, com alguns ricos do outro e um deserto a separá-los, sem classe(s) média(s).

Os sindicatos estão entre a espada e a parede. Se negoceiam (cedem), isto é, se subscrevem aquilo que os governos e os grandes interesses económicos mais querem, entregam os trabalhadores que representam e lançam-nos em maior precariedade e no desemprego. Se não cedem e dizem não aos aspectos reformistas mais gravosos para os trabalhadores, então são imobilistas e conservadores. É preciso muita habilidade e criatividade, mas é um caminho difícil para o sindicalismo, como se vê. Como contrariar a verdade inevitável, o tem que ser, a imposição pura e simples?

Não quer dizer que certas mudanças e reformas não têm de acontecer. Mas, têm de ser sempre com base no sacrifício de quem trabalha, quando se vê grandes lucros à volta, sobretudo em tempo de crise, de suposto aperto solidário e universal? Onde traçar a linha entre o evitável e o inevitável? Até dá a impressão que se instrumentaliza e dramatiza o tempo de crise para ir mais além do que o necessário. Para delapidar mais direitos (confundidos com regalias) e estabilidade aos trabalhadores. Para retirar mais protecção social. Para aumentar impostos. Para empobrecer muitos em favor de uns poucos.

Os sindicatos têm muitos defeitos, contradições e precisam de gerar novas respostas nesta economia e sociedade globais. Mas, não me venham dizer que são as multinacionais que vão defender os interesses dos trabalhadores, o seu-bem estar e a sua felicidade. Isso interessa-lhes para alguma coisa? Claro que não. Quem não aguenta vai embora porque há muita mão-de-obra na fila à espera. O que não faltam são descartáveis, que chamam de dispensáveis, supranumerários, excedentários...

Querem-nos convencer que a precariedade, a desigualdade e o desemprego são normais e fatais, tão naturais como o sol e a chuva. Que negociar é igual a perder muito e a ganhar (manter) pouca coisa. Se é tudo inevitável, por que não deixam de negociar ninharias com os sindicatos? Parece ser apenas para legitimar política e socialmente as medidas.

A competitividade, a meritocracia e a pressão a qualquer preço sobre as pessoas é fatal? É justo que ser mais produtivo e competente não seja garante de melhor salário, protecção social nem da manutenção do posto de trabalho? Fazer mais e melhor todos os dias, por igual ou pior salário, não chega porque não é garantia de nada. Sacrificar a vida em função da profissão (da produção, do fazer) pode não servir de nada na hora do despedimento. Tudo estará justificado, por esta ou aquela razão. O trabalhador deixou de ser preciso, ficou velho, ficou doente, há quem faça o mesmo por menos direitos? Então para o olho da rua.

Uma coisa é certa, se tudo é inevitável, vamos abraçar a inevitabilidade esperneando e resistindo. Ao menos a luta será feita. Ou queriam que os sindicatos conduzissem os trabalhadores como carneiros para o sacrifício? A morte é inevitável mas não é preciso ficar imobilizado (deixar de viver em pleno) até que ela chegue.

Espanta o Sindicato dos Professores da Madeira preparar-se para aderir, com um sim de 80% dos professores sindicalizados, à CGTP-IN? A hora é de máxima união. Ou o SPM deveria antes aderir à UGT, cujo secretário geral ora está sentado na sede do PS a aplaudir José Sócrates, ora está sentado na mesa das negociações laborais com o mesmo José Sócrates Primeiro-Ministro? É este o sindicalismo que é credível?

Só mais isto: a quem interessa sindicatos fracos, inexistentes ou amordaçados?

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Greve

2 comentários:

  1. Nélio,
    naturalmente e por diferenças de posicionamento - digamos - ideológico, não concordo com a totalidade das suas afirmações. Mas subscrevo grande parte delas. Por mais não seja, porque quando o curral é atacado, as ovelhas não procuram refúgio junto do lobo (desculpem-me, os professores, a má comparação)!

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  2. Viva.
    Obrigado pelo comentário. Devo esclarecer que o lobo não é personificado, propriamente, pelos políticos que elegemos. Eles são nossos interlocutores e ainda temos alguma mão neles.

    O problema são as entidades distantes e invisíveis que controlam a ordem mundial. Que condicionam políticas e governos. Que impõem verdades únicas. Que monopolizam a vida no planeta. Que não são fiscalizadas por nós nem prestam contas a ninguém. Que têm os lucros que querem. Que controlam o que querem como se fossem estados sem fronteiras.

    Numa palavra, o inimigo não são os governos, que têm de responder perante nós. É preciso reforçar a política e os políticos face à economia e seus agentes. É preciso ter isto em mente na relação com os políticos que nos governam, no sentido de os reforçar e pressionar para que governem com equilíbrio para as populações e não governam em função dos interesses mais altos de alguns.

    Não são só os professores ou a administração pública que estão sob ataque. É mais vasto e profundo. Será que alguém acredita que o cidadão terá melhor e/ou mais barata Educação, Saúde, Justiça e Segurança Social? Melhores salários? Melhores condições laborais?

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