Não conhecia valter hugo mãe até este Agosto, mas gostei d' o apocalipse dos trabalhadores, ao ponto de já estar a ler o remorso de baltazar serapião, obra que lhe valeu o Prémio José Saramago 2007.
Deixo uma primeira passagem, logo no início do romance dos «trabalhadores» (sublinhado nosso):
«o senhor ferreira voltava a sorrir e a investir sobre ela como se mais animado, tão mais divertido quanto excitado. não seja ingénua maria da graça, se descobrissem o quanto, digamos, gostamos um do outro, haveriam de a cobiçar até lhe porem a mão como eu. se aquilo era honestidade, a maria da graça não sabia. sentia-se como vulgar, com o maldito categoricamente afirmando que lhe punha as mãos pela oportunidade. era como ouvia cada palavra, enquanto uma mão limpava a casa, a outra limpava o ego imperalialista do patrão. olhe, senhor ferreira, um destes dias o meu augusto descobre e vem aqui falar-lhe de uns assuntos difíceis.» (p12)
«se ela estava casada e ele tão sabedor disso, ele não seria mais do que um oportunista, aproveitando-se da sua condição humilde de empregada para se pôr nela e acentuar a sua ignorância falando-lhe das maravilhas do mundo.» (p14)
Peguei no Remorso… por causa da aproximação a Guimarães Rosa (do VGM, na contracapa), e o início surpreendeu-me, pelo esforço de invenção sintáctica (por incisão, não é?) e pela sustentação do (mesmo) registo por tantas páginas seguidas. Mas acho que o enredo se perde no sufoco supersticioso e no fantástico gratuito. Ficou-me, portanto, não impressão de Guimarães Rosa, mas de Saramago, que parece arrastar o VHM por um Memorial… menor. Ainda assim, claro, melhor que qualquer Peixoto. Concordas?
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