«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Incoerência "anarquista" da ministra da Educação

Fica mais uma vez provada a credibilidade e coerência da ministra da Educação, cuja acção política e educativa é do mais anti-anarquista que existe.
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Pensei que era desta que a senhora ministra da Educação me conquistava... «[A]inda me sinto anarquista», afirmou Maria de Lurdes Rodrigues em entrevista ao Público (P2 de 28.11.2008).

E isso significa, no seu entender, «ter um quadro de valores, de pensamento que orientam a nossa acção.»

O seu período do anarquismo tem a ver com o período pós 25 de Abril e a ligação ao jornal anarco-sindicalista A Batalha e à revista anarquista Ideia, de cultura e pensamento libertário. «Mais tarde, Lurdes Rodrigues trabalhou no Arquivo Histórico-Social, na organização de espólios de diversos militantes anarquistas doados à Biblioteca Nacional.»

A teoria e os valores que se desejam e apregoam é tudo muito bonito, romântico, mas a prática é o que interessa. A distância entre o que se pensa e diz é grande, mas muito maior entre o que se diz e faz.

Por que razão a ministra não optou por um sistema de avaliação anarquista? Nem digo totalmente anarquista. Pelo menos com algum espaço para os professores poderem ser também um pouco anarquistas, isto é, ter um quadro de valores, de pensamento a orientar a sua acção pedagógica que é do agrado de Maria de Lurdes Rodrigues.

Se calhar está aqui a solução para o impasse actual sobre o modelo da avaliação...

Não se percebe é a razão da ministra, com simpatia pelo anarquismo, em que a responsabilidade individual e o auto-governo são levados ao expoente máximo (ausência de governos é uma forma viável para um sistema social e que funciona maximizando a liberdade individual e a igualdade social) quer impor um modelo de avaliação do desempenho dos professores que controla cada passo e cada acção dos docentes, com fichas e mais fichas para preencher, numa teia burocrática.

Uma ministra que é tão presente e prepotente é o oposto da ausência do senhor, do soberano, que define o anarquismo.

Se o anarquismo é uma teoria politica que almeja criar uma sociedade na qual os indivíduos cooperem livremente entre si como iguais (liberdade sem igualdade é apenas liberdade para o poderoso, e igualdade sem liberdade é impossível e uma desculpa para a escravidão), por que motivo começou por dividir artificialmente os professores em duas categorias, apesar de uns e outros terem o mesmo conteúdo funcional, com prejuízo para o ensino-aprendizagem?

O anarquismo opõe-se a todas as formas de controle hierárquico - venha ele do estado ou de capitalistas - por ser danoso tanto ao individuo quanto à sua individualidade e portanto desnecessário. Contudo, é a rigidez e o controlo hierárquico que a minsitra tem introduzido nas escolas. Veja-se o que se quer fazer com o modelo de gestão dos estabelecimento de ensino... A palavra director, o tal director forte (quero, posso e mando) que querem nas escolas, é um antónimo de anarquia, dedinida como a ausência de governo, direcção ou autoridade imposta.

Anarquismo não significa ausência de ordem, note-se, ao contrário das deturpações do conceito. Significa ausência de dictato. É um movimento contra a hierarquia, porque é esta a estrutura organizacional que encorpora a autoridade.

"Anarquia" significa "não governo", significa oposição a todas as formas de organização autoritária e hierárquica.

«Os anarquistas se opõem à ideia de que o poder e a dominação são necessários para a sociedade e, por isso, defendem formas mais cooperativas e anti-hierárquicas de organização económica, política e social» como diz L. Susan Brown [The Politics of Individualism, p.106].

Fica mais uma vez provada a credibilidade e coerência da ministra da Educação, cuja acção política e educativa é do mais anti-anarquista que existe.

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