«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, maio 11, 2009

Não justificar a violência com a exclusão

photo copyright: Carlos Lopes (arquivo)

O bairro da Bela Vista é das zonas mais pobres de Setúbal, onde grande parte da população jovem está desempregada.

Esta realidade de exclusão social não pode ser escamoteada, mas também não se pode cair no discurso do "coitadinho" e justificar a violência devido às dificuldades sociais.

3 comentários:

  1. Nélio,

    Mas convenhamos que há que admitir que estas condições ajudam. O problema é que durante muito tempo as políticas de inclusão resumiam-se a compactar e a "despejar" inúmeras famílias vindas de zonas degradadas em grande bairros sociais construídos nas periferias das cidades, desprovidos no entanto de boas vias de acesso, eficientes redes de transportes, devidos equipamentos sociais ou estruturas de apoio e suporte. Algo que ajudasse a fomentar uma identidade própria de local.

    Estas políticas, aliás seguidas em Portugal ainda na passada década, já há mais de 20 anos que tinham sido abandonadas em França.

    O que me causa mais espanto, não é tanto o discurso da vitimização - que até tem algumas bases na minha óptica. É para mim a generalização que se faz destes acontecimentos. Como se a generalidade dos habitantes do bairro fossem gangsters ou algo do género. Não nego que estes bairros, assim estruturados, sejam mais propícios ao aparecimento de situações como a ocorrida, mas generalizar, quando a maioria da população até é honesta e tenta fazer pela vida é apenas seguir a natural tendência para o fait diver jornalístico. Conheci pessoas do dito bairro que souberam vencer as dificuldades que surgem em meios como este.

    Mas retornando ao comentário propriamente dito, concordo assim parcialmente com o que escreveste. Tal como tu, concordo que não deveremos justificar o injustificável. Mas também sei que há por vezes situações que há os chamados escapes sociais, que por vezes se podem manifestar por estas vias. Olhemos a outros países e a situação é exactamente igual - engraçado que enquanto aqui discutia-se uma agressão, na Alemanha manifestantes do 1º de Maio no Bairro Kreuzenberg em Berlim eram varridos pela polícia. Ou manifestantes extrema esquerda e de extrema direita defrontavam-se em Atenas no mesmo dia.

    Atendendo que somos endemicamente uma das sociedades mais desiguais da UE, admira-me o facto de não existir mais situações semelhantes. Em parte a nossa sorte é o facto de termos uma sociedade mais reactiva que proactiva. Assim como não temos uma grande polarização ideológica política (mormente do extremo direito).

    Não aprovo, mas compreendo a situação. Aliás, é do foro comum, que as massas são facilmente manipuláveis. Basta que houvesse um "leitmotiv" suficientemente forte.

    Agora, obviamente isso não desculpabiliza a situação. Mas tomara que ajude a repensar rapidamente a questão dainclusão em muitos dos bairros periféricos das grandes cidades. Pode ser um conselho algo comum, mas olhem para a "mediática" Cova da Moura. O que lá é feito é um bom exemplo de recuperação que deveria ser feito.

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  2. OS BANDOS DOMINAM NOS BAIRROS SOCIAIS

    Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade com o a pobreza e o desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. Barack Obama – que se poderá considerar de esquerda – prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível.

    Todos os dias vemos fechar Empresas jogando muita gente no desemprego e na pobreza. Frequentemente, ficam muitos meses de salários por pagar, levando essas pessoas a uma situação de desespero. Se fosse esse o motivo dos desacatos que se têm visto nos bairros sociais, então eles aconteceriam preferencialmente nas manifestações junto aos antigos locais de trabalho, onde se aglomeram muitas pessoas na mesma situação.
    Não! o que se viu no Bairro da Bela Vista foi a homenagem a um criminoso abatido em flagrante pela polícia, numa atitude de desafio à própria polícia como que para testar a sua capacidade de reacção e para uma demonstração de força no bairro.

    Há 50 anos a pobreza em Portugal não era menor que a de hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. As estatísticas nem reflectem a nossa realidade porque muitas vítimas já nem se queixam porque sabem que os criminosos são rapidamente postos em liberdade, mesmo quando são capturados e depois ficam sujeitos a represálias. Mela mesma razão, vítimas e testemunhas escondem a face quando são entrevistadas pela televisão.

    Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade.

    A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor ) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.

    Mas existem muitas pessoas trabalhadoras e humildes nos bairros sociais que não levantam problemas e que só desejam que os deixem viver em paz, o que não acontece, porque estão reféns dos bandos de criminosos que dominam nesses bairros. Não se pode contar com essas pessoas para testemunharem qualquer acto criminoso a que assistam porque têm medo, medo de represálias porque não se sentem convenientemente protegidas pela polícia que também não pode estar sempre presente. Lembra as favelas brasileiras...só que no Brasil polícia e militares juntam esforços para combater o domínio dos bandos nas favelas e tem havido baixas parte a parte mas a polícia começa a chegar onde antes não se aventurava. Por cá, enquanto o crime cresce e toma posições de domínio, a polícia, apesar de vontade, nada pode fazer porque lhe falta a autoridade. Entretanto, Governo, Partidos, Bispos e outras organizações não compreendem o que se está a passar e fazem conjecturas absurdas sobre o motivo dos desacatos que é por demais evidente. Será que temos que cair no fundo?

    Ah! esquecia-me de uma coisa: espero que os indivíduos filmados a fazer "cavalinho" com as motos sejam punidos pelo menos por CONDUÇÃO PERIGOSA. É incorrecto multar o pacato cidadão apenas porque ultrapassou 50 Km/hora e deixar impunes estes exemplos exibicionistas...

    Zé da Burra o Alentejano

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  3. Desculpem a intromissão, mas a respeito do que aconteceu no Bairro da Bela Vista é assustador, não pela violência em si, mas porque assistimos a uma total troca de valores.
    Afinal, o rapaz andava numa vida de crime, é apanhado a roubar, segundo parece pertencia a um gang, é morto numa troca de tiros com a polícia e isso dá azo a estes actos de violência... por favor!
    E se tivesse morrido um polícia, ou um a outra pesoa, os vizinhos e a família e
    ou os colegas iniciavam uma revolta?
    Tudo o que foi dito atrás sobre a exclusão , a pobreza , o desemprego e tudo mais , é verdade, o problema é que não foram as pessoas que habitam o bairro que se manifestaram, foram os gangs lá do sítio.
    Vi uma entrevista com aquele que é (alegadamente) o chefe da revolta, achei que eles vêm muitos filmes e se acham heróis.
    Basta de conversa , o que falta são os valores, porque há muita gente pobre e a maior parte não rouba um alfinete.

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