«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, agosto 31, 2009

E agora, algo completamente igual?

A estratégia de esmagamento e desvalorização pública dos docentes pelo actual Governo foi contraproducente, sobretudo numa sociedade que, no geral, não valoriza a escola e o conhecimento.

A frase «And now for something completely different» foi popularizada pelos comediantes Monty Python, na transição entre sketches da lendária série da BBC Monty Python's Flying Circus.

A propósito do que aí vem para os professores e a Educação, após as Legislativas 2009, será caso de um «E agora, algo completamente diferente»?

É importante que os docentes se mantenham vigilantes e preparados para os desafios (lutas) que se continuarão a colocar após 27 de Setembro. Com esperança e ânimo, mas sem ilusões. Não esperamos algo completamente diferente, seja qual for a liderança governativa que venha a formar-se após as Eleições Legislativas de 2009.

Por um lado, já será um passo importante se, ao menos, houver outra atitude de respeito e valorização dos docentes, a alteração de (alguma) legislação e negociação efectiva com a classe.

Por outro lado, será um bom sinal se os valores estruturantes do Trabalho, da Responsabilidade e da Disciplina passarem a ser exigidos aos estudantes como factor de inclusão, sucesso pessoal, preparação para a vida e mobilidade social.

«Os resultados escolares são sempre explicados por mais trabalho e mais estudo», disse a ministra da Educação (RTP1 7.7.2009), que reconhece o peso do empenho do estudante nos resultados, mas tantas vezes ignorado, porque tem sido mais fácil e útil culpabilizar os professores de tudo, até da atitude negativa generalizada dos estudantes perante o trabalho (escolar). As condições de trabalho e realização profissional dos docentes passa muito por aqui e o actual governo acentuou o laxismo na escola (mão dura foi apenas para os professores), como se não bastasse dar-lhes cabo da carreira e salário.

A estratégia de desvalorização da imagem social, de esmagamento ou de "quebrar a espinha" aos professores foi um erro que só o inebriamento de uma maioria absoluta não deixou ver.

O primeiro-ministro José Sócrates, durante uma entrevista concedida à SIC, reconheceu que a avaliação inicialmente proposta pelo governo pecava por ser «burocrática e complexa». Todavia, há uns tempos atrás, não houve este tipo de reconhecimento e foi tudo para manter, contra tudo e todos. Apesar das simplificações já realizadas, o actual modelo continua a agonizar na sua complexidade e burocracia, que emperram mais a vida das escolas do que avaliam o desempenho científico-pedagógico dos docentes.

Os professores e o sector educativo estão cansados de promessas. Em período pré-eleitoral, a Educação é apregoada como decisiva para o futuro do País, mas depois nunca é assumida como prioridade, além dos discursos de circunstância. No final, porque até o conhecimento e a escolaridade continuam a ser desvalorizados pela sociedade portuguesa, tarda a elevação dos níveis de qualidade da escola e de qualificação dos portugueses.

Nélio de Sousa
Dirigente do Sindicato dos Professores da Madeira
Jornal da Fenprof Julho 2009

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