O ser humano tem uma tendência natural para o mal. For pure evil it takes a human touch...
Para além do apoio psicológico, por via da espiritualidade, para suportar as agruras da vida, as religiões são sistemas que se destinam a contrariar a má índole da natureza humana e a nossa propensão ou tendência natural para o mal e as más acções.
Por isso, a ideia de Jean-Jacques Rousseau que o «homem é bom por natureza» (bom-selvagem) e que a «sociedade [...] o corrompe» é um idealismo e uma ilusão que continuam a causar danos no mundo ocidental, entranhados que estão na nossa cultura, sobretudo pela via de uma certa esquerda irrealista de todas as liberdades para o indivíduo, a qualquer custo para os demais, e de poucas ou nenhumas responsabilidades individuais.
Muitos danos tem a ideia do «bom-selvagem» causado na educação das crianças e jovens, pressionando os adultos no sentido do facilitismo e da complacência. Para não "corromper" a suposta "bondade natural".
Ora, a História da Humanidade está repleta de exemplos, ao nível micro ou macro, que desmentem essa ilusão do homem ser «bom por natureza» do filósofo francês, mesmo que a propensão para o mal não seja igual em todas as pessoas. Há seres humanos com melhor índole natural ou que conseguem aperfeiçoar ao longo da vida.
As religiões, independentemente da opinião que se tenha sobre elas, destinam-se a contrariar a tendência natural para o mal do ser humano. O Judaísmo, o Cristianismo e o Islão encaram os dramas humanos como a vontade ou castigo de Deus. Para as religiões e filosofias orientais, os dramas humanos são uma consequência dos nossos actos presentes e passados.
Seja como for, sendo os dramas humanos consequência da vontade de Deus ou consequência dos actos de cada pessoa, o objectivo é o mesmo: convocar ou pressionar o ser humano à melhoria e a praticar boas acções. Seja com medo do arbítrio (acção, castigo) de Deus ou com receio da reacção (consequências, efeitos, frutos, retorno) das nossas próprias acções, nesta vida (presente e futura) ou em próximas vidas (reencarnações), o ser humano que seja temente irá sentir-se compelido e pressionado, no sentido de ser virtuoso (agir bem e ser bom).
Nas religiões orientais coloca-se a ênfase no livre arbítrio, responsabilidade e consciência de cada pessoa, para ser melhor e praticar o bem, embora as consequências kármicas e nas vidas futuras (reencarnação) sejam, na prática, como que um castigo, uma penalização, por via do sofrimento, para quem insistir em fazer o mal.
No Judaísmo, no Cristianismo ou no Islão, coloca-se menos ênfase na autonomia, responsabilidade individual e livre arbítrio de cada pessoa, para conduzir a sua vida no sentido do bem. A pessoa é mais dirigida pela entidade divina, superior e exterior, que aplica as consequências a quem conduz uma vida que não seja virtuosa. Em última instância é condenado ao Inferno.
Numa palavra, está subjacente uma pedagogia do medo, seja o medo de consequências das nossas próprias acções ou de consequências por via do castigo directo de Deus.
Nos grandes objectivos, as religiões buscam todas o mesmo. Apenas as diferencia as formas ou métodos de chegar ao mesmo fim: reprimir a tendência natural do homem para o mal / más acções, induzindo o medo das consequências, e ajudá-lo a lidar com a inevitabilidade dos sofrimentos na vida e a morte.
Mas, não bastam as religiões para reprimir essa tendência natural do ser humano para o mal. Quem não temer o castigo divino ou as consequências kármicas, fica “livre” para a prática de más acções.
Assim, o homem, organizado em sociedade, teve de criar leis terrenas para reprimir e dar consequência às más acções. Todavia, as leis terrenas dos homens também não garantem consequência a todas as más acções humanas. O homem e o mundo são imperfeitos...
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