«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, maio 28, 2010

Meu olhar sobre a Índia (7)

Vivekananda Rock Memorial, em Kanyakumari, no ponto mais a sul da Índia (imagem captada a partir do barco)

Os lugares sagrados e de culto, seja em que lugar for do mundo, são iguais quanto à sua essência, independentemente da sua filosofia e dos seus rituais serem mais ou menos coloridos, mais ou menos exóticos. Porque a natureza/condição humana é a mesma, em qualquer ponto do planeta, que ainda por cima é muito pequeno (e cada vez mais pequeno, fruto da globalização).

As religiões, independentemente da opinião que se tenha sobre elas, destinam-se a contrariar a tendência natural do ser humano para o mal. A ideia de Jean-Jacques Rousseau que o «homem é bom por natureza» (bom-selvagem) e que a «sociedade [...] o corrompe» é um idealismo e uma ilusão.

A História da Humanidade está repleta de exemplos, ao nível micro ou macro, que desmentem essa ilusão do homem ser «bom por natureza» do filósofo francês, mesmo que a propensão para o mal não seja igual em todas as pessoas. Há seres humanos com melhor índole natural ou que conseguem aperfeiçoar-se (sublimar-se) ao longo da vida.

O Judaísmo, o Cristianismo e o Islão encaram os dramas humanos como a vontade ou castigo de Deus. Para as religiões e filosofias orientais, os dramas humanos são uma consequência dos nossos actos presentes e passados.

Seja como for, sendo os dramas humanos consequência da vontade de Deus ou consequência dos actos de cada pessoa, o objectivo é o mesmo: convocar ou pressionar o ser humano à melhoria e a praticar boas acções.

Seja com medo do arbítrio (acção, castigo) de Deus ou com receio da reacção (consequências, efeitos, frutos, retorno) das nossas próprias acções, nesta vida (presente e futura) ou em próximas vidas (reencarnações), o ser humano que seja temente irá sentir-se compelido e pressionado, no sentido de ser virtuoso (agir bem e ser bom).

Nas religiões orientais coloca-se a ênfase no livre arbítrio, responsabilidade e consciência de cada pessoa, para ser melhor e praticar o bem, embora as consequências kármicas e nas vidas futuras (reencarnação) sejam, na prática, como que um castigo, uma penalização, por via do sofrimento, para quem insistir em fazer o mal.

No Judaísmo, no Cristianismo ou no Islão, coloca-se menos ênfase na autonomia, responsabilidade individual e livre arbítrio de cada pessoa, para conduzir a sua vida no sentido do bem. A pessoa é mais dirigida pela entidade divina, superior e exterior, que aplica as consequências a quem conduz uma vida que não seja virtuosa. Em última instância é condenado ao Inferno.

Numa palavra, está subjacente uma pedagogia do medo, seja o medo de consequências das nossas próprias acções ou de consequências por via do castigo directo de Deus.

Nos grandes objectivos, as religiões buscam todas o mesmo. Apenas as diferencia as formas ou métodos de chegar ao mesmo fim: reprimir a tendência natural do homem para o mal / más acções, induzindo o medo das consequências, e ajudá-lo a lidar com a inevitabilidade dos sofrimentos na vida e a morte.

Mas, não bastam as religiões para reprimir essa tendência natural do ser humano para o mal. Quem não temer o castigo divino ou as consequências kármicas, fica “livre” para a prática de más acções.

Assim, o homem, organizado em sociedade, teve de criar leis terrenas para reprimir e dar consequência às más acções. Todavia, as leis terrenas dos homens também não garantem consequência a todas as más acções humanas. O homem e o mundo são imperfeitos...

1 comentário:

  1. Interessantíssima esta reflexão...não podes é esquecer uma certa tendência maniqueísta a que as religiões e credos em geral conduzem. Assim, também existem seitas e momentos históricos em quase todas as Religiões em que o Homem manipula a suposta vontade Divina a seu belo prazer de modo a satisfazer instintos torpes e interesses inconfessáveis. A imperfeição moral do Homem é tal que pode ter a veleidade de se imaginar portador da vontade divina e através dos mais ignobeis meios manipular grande número de "crentes"a executarem tais acções e a tornarem-se pessoas que, de acordo com a nossa escala de valores, são inequivocamente más e perversas.
    Penso que as religiões são mecanismos a que a Humanidade recorre para idealmente se aperfeiçoar, mas que frequentemente resultam no computo das suas acções como indicadores de fragilidade da condição humana. Talvez por isso cada vez mais persiga uma perspectiva espiritual desligada de um credo institucional e tente percepcionar em todo e cada um de nós viventes (até no mundo animal e vegetal) a tal fagulha divina que nos distingue e compõe este mundo...

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