Demasiado romântica e desligada da realidade
Toda a oposição, e muito bem, da esquerda à direita, caiu em cima desta ideia peregrina da ministra da Educação, Isabel Alçada, em acabar com os chumbos (reprovações) no ensino por decreto. Será a maior tentativa de atingir o sucesso escolar forjado, por via administrativa e estatística.
E vou explicar o porquê de ser também contra tal ideia da ministra, apesar de ter a consciência de que, nas maior parte dos casos, a retenção do aluno contribuir para novas reprovações e não para o oposto. Parece contraditória a minha posição, mas veremos que não é. Porque é preciso ter em conta a realidade e o contexto socio-cultural em que nos movemos.
Gostaria que existissem condições para assegurar a não reprovação de alunos. Sem determinadas condições elementares, avançar com tal medida, abolir os chumbos por decreto, é simplesmente um desastre. Será lido pelos portugueses, sobretudo os alunos, como mais um sinal de facilitismo e permissividade. Para trabalhar e estudar ainda menos. O Partido Socialista representa, neste domínio, o pior da esquerda facilitista e permissiva, sem consciência de como funciona a natureza humana e qual a atitude do povo português, em geral, perante a cultura e o trabalho escolar.
Primeiro, para acabar com os chumbos, é preciso ter um caminho alternativo, com condições tais que assegurem que o aluno quando transita de um nível de ensino para o outro, possui de facto os conhecimentos básicos. Se for para passar por passar, um mero acto administrativo, é outro assunto.
Um caminho sério em alternativa ao chumbo, que não seja passar por decreto, exige turmas mais pequenas, mais professores, mais apoios sociais e pedagógicos aos alunos e famílias, mais estudo e trabalho por parte dos alunos e mais acompanhamento por parte dos pais. Ora, nem a sociedade portuguesa está disposta a investir mais e a sério na Educação, nem existe uma cultura de valorização do trabalho escolar.
Marcelo Rebelo de Sousa, disse, e bem, que a questão tinha de ser colocada de outra forma. Se Portugal deve ter (se tem condições para ter) um sistema de ensino igual ao Filandês. A questão não pode colocar-se entre haver ou não chumbos.
Ora, a Filândia, que não tem o atraso de Portugal no ensino, nomeadamente nos níveis de literacia e qualificações, possui um ensino gratuito, uma elevada taxa de leitura, turmas pequenas, em que até ao 6º ano os alunos têm um professor e um ensino tutorial, uma organização das escolas que nada tem a ver com o nosso país, em que os professores são remunerados de outra forma (ao ordenado base soma-se o pagamento por cada tarefa extra) e não têm uma progressão travada por quotas ou vagas como em Portugal.
Além disso, a cultura cívica, a disciplina pessoal e a atitude perante o trabalho intelectual nada têm com Portugal. Uma medida para acabar os chumbos por decreto seria recebido como mais um sinal para os alunos estudarem e trabalharem menos. Sabemos que a pais e alunos, na generalidade, importa é passar de ano, não interessa se o ou a petiz tem o conhecimento. A ministra sabe a quem quer agradar.
Se o sistema de ensino Português já anda com grandes dificuldades com os alunos a transitarem de ano sem atingir os objectivos mínimos (muito mínimos) em três disciplinas, isto entre o 5º e o 9º ano, com mais os facilitismos actualmente existentes no sistema, então imagine-se o que aconteceria se houvesse mais um sinal facilitista como o proposto pela ministra.
No final, como sempre, sobra para os professores. Mesmo que Portugal esteja a anos luz das condições socio-culturais e de trabalho da Filândia, se o romantismo da ministra não resultar é porque os professores são incompetentes... Quem se lixa é o mexilhão.
País da treta... Deveria ser preso quem vende semelhantes ilusões e utiliza o sistema de ensino para o romantismo ou a politiquice. Não só não são presos como ainda lhes é dado o cargo de ministro...
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