«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, setembro 10, 2012

Beber socialmente é beber, pois é


Beber socialmente é também beber. Está certa a análise, mas o articulista (ver texto reproduzido em baixo) ao dizer «quando é só bebida, a coisa até não é muito má!» entra em contradição. Contudo, fica mais este alerta sobre o problema do consumo de bebidas alcoólicas na Região que não é novo - tem novos contornos.

Dá jeito um estonteamento, sobretudo numa ilha no meio do atlântico e com alta densidade populacional e constrangimentos sociais e culturais, mas é preciso medir as consequências. Consumam antes cultura, que até faz bem à saúde. E além disso, a «cultura faz perder os medos», como disse João Carlos Abreu.



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«Bebe?... Só socialmente!», um artigo de José Manuel Morna Ramos no Diário de 10.9.2012:

«Bebe? É uma pergunta, necessária e conveniente, que se faz num comum e vulgar interrogatório para avaliar um paciente, antes chamado doente, agora apelidado utente. E a resposta mais vulgar e comum é cada vez mais: - Não, só bebo socialmente! Com este tipo de resposta, considera-se então, que não bebe no dia a dia, não bebe no local de trabalho e só bebe quando está com a família ou com os amigos - quando isso acontecer diariamente, vai afinal beber socialmente, todos os dias. Nada que já não se soubesse, porque, o consumo de bebidas alcoólicas quadriplicou nos últimos 30 anos, fazendo disparar entre outras situações, a obesidade, algumas doenças crónicas e uma "coisa" que já muita gente passou a conhecer: a gama-GT. Com a infestação de revistas cor de rosa, com seus conteúdos aguados e estéreis, referenciando as inúmeras festas sociais, com múltiplos e justificados motivos, com generosas participações de colunáveis - que devem ser pessoas que não têm problemas na coluna - não faltam justificações para beber em sociedade e com muita bebida, ... mas bebida somente, com o  único intuito de se socializar. À custa destas tão badaladas festas, deve haver muito boa gente, que ingere 2 a 3 litros de álcool por semana. E que afinal, até nem costuma beber!

Bebe-se e dá-se de beber em todo o lado. Não há meio-vão de escada que não venda poncha, caipiroscas e bebidas manipuladas, ... e no outro meio-vão da escada pode vender o seu ouro, mesmo danificado, para pagar mais duas rodadas. Dá-se de beber de manhã e à tarde, gasolina e gasóleo aos carros e às motas, e à noite vende-se bebidas "vitaminadas" aos respectivos donos, no mesmíssimo espaço, provavelmente contaminado, com os detritos normais dos combustíveis. E nem se põe em questão, qualquer tipo de perigo neste recinto improvisado, pelos vistos, autorizado de "diversão nocturna"! Perigo sim, é levar um corta-unhas no avião!

Percebe-se e aceita-se que o longo período de férias escolares, seja um tempo de relaxação e de divertimento, mas não de intoxicação alcoólica contínua, e direi mais, intoxicação orgânica institucionalizada. Para mais, em jovens que não atingiram a sua maturidade funcional geral. Mas, se me dizem, que os negócios vão mal e por isso, há que facilitar e não se vai proibir isto ou aquilo, aí eu entendo e aceito - vamos beber até os negócios melhorarem ... e até lá, já ficou o hábito de beber, transmitido aos mais novos.

Percebe-se os arraiais, que são cada vez mais bem organizados, ganharam grande frequência dos jovens - que se deslocam em grupos organizados - e assim, se tornaram um pólo de múltiplos encontros e um local aprazível de divertimento. E os exemplos recentes dos arraiais da Graça no Porto Santo e da Vila em S. Vicente - este último já chegou á primeira divisão - reúnem os locais e os forasteiros, ... muitos deles, vêm do continente nacional, com esse único objectivo: divertir-se e encontrar os amigos em festas típicas e populares.

Mas quando é só bebida, a coisa até não é muito má! Quando se metem a introduzir no seu próprio organismo, produtos químicos, tóxicos - considerados legais, porque ninguém sabe explicar, porque não foram ainda devidamente avaliados e classificados - o caso muda de figura, e fazendo comparações lógicas, até a própria marijuana - que é proibida pela Lei 15/93 - mais se parece com água mineral!

Mas afinal onde reside o problema: na venda autorizada destas substâncias psicotrópicas ou na sua procura para uso voluntário como euforirizante? Para onde se dirige esta sociedade que só bebe para se socializar e procura reconhecidos químicos "legais", tóxicos cerebrais, para se divertir - acima daquilo que o ambiente pode oferecer?  O que se está a passar não é caso de polícia, é o reflexo duma sociedade, num país democrático, apática e distraída com problemas importantes, pensando sempre, que o vizinho do lado os vai resolver. Até lá vão dizendo que não bebem, ...  aliás, só bebem socialmente!»

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