«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, setembro 06, 2014

Liberdade emancipatória de Jennifer Lawrence

A frontalidade e liberdade emancipatórias de Jennifer Lawrence ou Scarlett Johansson são poderosas e, por isso, assustam de morte a hipocrisia puritana e o machismo. Temos mulheres!
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Talvez o hacker que sacou as fotografias íntimas de celebridades, além do crime de devassa do mundo privado e da dor causada, tenha dado um contributo para a emancipação das mulheres e mudança de mentalidades (anti-puritanismos e anti-machismos).

Como argumenta o articulista Henrique Raposo na peça intitulada Jennifer Lawrence e Marilyn Monroe: as diferenças (Expresso, 5 de Setembro de 2014), a actriz «Jennifer Lawrence poderá ser um símbolo de emancipação da mulher e não um mero símbolo sexual [como Marilyn Monroe].»

E explica por que razão: «Ao enfrentar de frente o problema, ao assumir a dor causada e ao colocar uma acção legal contra o hacker e diversos sites, Jennifer Lawrence está a dizer uma coisa: não, não aceito que a minha sexualidade [intimidade no geral] seja ditada por critérios puritanos ou machistas, sou eu que decido a minha vida

Sou eu que decido a minha vida. Ponto final. Uma atitude do caraças. E foi tudo à queima-roupa: a actriz teve de reagir logo e fê-lo com um inconformismo libertador. Por isso, sou humanamente solidário com esta mulher e admiro-a hoje ainda mais pela sua garra e por ter optado por dar luta e ultrapassar o problema por cima, de cabeça erguida. Só uma pessoa senhora de si e livre o consegue. Temos mulher.

Recordo, há algum tempo, que outra grande actriz, Scarlett Johansson (ok, também muito bonita e sexy, sou sensível à beleza), conseguiu ver condenado a dez anos de cadeia alguém que devassou a sua vida privada ao colocar imagens suas na net. Em 2003, numa entrevista do The Observer, declarou-se orgulhosa da sua energia sexual: «it's great to be able to pronounce your sexuality. Not... over-annunciate it. But use it, touch on it. I'm a very sexual person, I have a sexual energy about me that I'm very proud of. Like my femininity, and I think it's nice, to have guys and girls think you're sexy. As long as it's not tacky [in bad taste].»

O erotismo e a sexualidade não têm de ser, excepto à luz de certa mentalidade, algo de menos nobre, elevado ou belo. Porque nos aproxima mais do nosso instinto primitivo? Isso não tem de ser mau desde que não se banalize/vulgarize, não transforme a pessoa num mero objecto sexual, nem prejudique ou atente contra a dignidade de ninguém.

É esta emancipação feminina de Scarlett ou Jennifer, que é uma emancipação humana no sentido geral, a que a segunda deu agora um forte contributo, que constitui um valor. Há males que trazem bens mais importantes e elevados, que suplantam danos pessoais causados por actos criminosos.

E que se lixem os puritanos-falsos-moralistas-machistas que, em vez de condenar o hacker, optam por atacar a vítima, como se não tivesse direito à privacidade e a fotografar o seu corpo na intimidade. Como se a actriz estivesse a ser merecidamente castigada por ter cometido um pecado. São os mesmos que apedrejam as mulheres até à morte em certas sociedades...

O articulista diz ainda: «E esta atitude [de Jennifer Lawrence] não surge por acaso. Lawrence é o símbolo de uma Hollywood crescentemente dominada por jovens mulheres, que hoje em dia são protagonistas de grandes blockbusters. Coisa impensável no tempo de Monroe. Aliás, coisa impensável há dez anos.» E será isto que preocupa os machistas.

Nota:
Mesmo quem tenha a tentação de fazer download de alguma dessas fotografias, é importante ter em mente que é algo privado não destinado à partilha pública, o que deve ser respeitado: não procurar, não guardar, não divulgar.

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