«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Desligar do facebook

Silencioso entardecer de hoje, à porta de casa

Há alguns anos libertei-me da televisão, agora liberto-me de outro ruído alienante, usurpador de tempo e atenção, inimigo do silêncio, que veio ampliar a superficialidade (a espuma dos dias—“casos do dia”) neste mundo. Seja na actualidade informativa, seja na rede social, as questões realmente importantes são, deliberadamente, evitadas.

A maioria das pessoas limita-se, domesticada, a seguir modelos, padrões, escolhas e comportamentos que lhes são impingidos, desde o berço ao caixão. A liberdade afirma-se em actos. Opto pela realidade, que é nutritiva e vale a pena, e resisto a ser amestrado pela tecnologia. Opto por não estar sempre disponível, nem atarefado ou a esbanjar tempo, e viro costas ao alvoroço da tal espuma dos dias. Opto por mais espaço.

É preciso subtrair, retirar o excesso, ir ao osso. Não fugir de si próprio, não viver através de outras pessoas ou outras coisas.

Citando Emily Dickinson, «THE BRAIN is wider than the sky». Portanto, o Cérebro é, incomensuravelmente, mais vasto do que o facebook…

É preciso «parar, para que, de repente, um tempo lento [e amplo], e ao ritmo de si próprio, se desenvolva», como referiu o filósofo José Gil. Quero ainda mais tempo para o que realmente importa e é essencial ao meu bem-estar, crescimento e viver pleno. A «velocidade com que vivemos impede-nos de viver», refere José Tolentino Mendonça, sendo preciso um «abrandamento interno».

Prefiro cultivar a capacidade de espanto a olhar as nuvens :-). «Como são belas… como são belas… como são belas…», afirma Otelo, no filme “Que Coisa São as Nuvens” de Pasolini. Iago responde: «Ah, arrepiante maravilhosa beleza do criado!»

[a quem eu importo e quem importa, encontra-me: neliodesousa@gmail.com / http://olhodefogo.blogspot.pt]

ACTUALIZAÇÃO (2.9.2018):
Passados alguns meses de retiro, um regresso noutras condições, num ligar mais desligado, sem interferir com o meu Tempo e Espaço pessoais: 

Sem beliscar o meu Tempo (lento) e outras coisas basilares, como o contacto directo (não virtual) com os Amigos ou a abertura de espírito (é preciso fintar os algoritmos), nem ser arrastado pela espuma dos dias, retomarei a partilha, embora de forma esparsa. Utilizar o Messenger do Facebook sem publicar na Página (interagir) como que me fazia sentir um voyeur... :).
Uma ideia, uma emoção, uma fotografia, um vídeo musical, um evento artístico. Ao fim ao cabo, uma câmara de eco do blogue Olho de Fogo.
Também pelos Amigos nascidos ou mantidos pelo contacto presencial, alguns dos quais interajo via Messenger (virtualmente, mas como complemento do presencial), uma forma ágil de comunicação, sem dúvida—essa Comunicação e essa Troca fazem parte do Essencial, nas antípodas da tal espuma dos dias. O que vale, realmente, é estar com as pessoas em modo directo, ao vivo. Sem isso, o virtual é mesmo virtual, e não será complementar para a qualidade da amizade/relacionamento, da atenção e proximidade entre as pessoas.

Conexões:
Parar para viver melhor
A arte da lentidão, por José Tolentino Mendonça
Silêncio

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