Já tinha lido a entrevista a Spike Lee, que faz capa na revista inglesa Sight & Sound, pelo que fui logo ver o seu novo filme, BlacKkKlansman, acabadinho de estrear num dos cinemas da Madeira. Ao preço que está o cinema, 7 euros, só quando é algo de substancial (mais do que um filme funcional e ligeiro de entretenimento).
E que filme. A narrativa tem lugar em 1973, mas faz a ponte com o momento actual da «America greater again» de Trump e tudo o que ele representa, trazendo ao de cima dores que a grande América nunca resolveu no seu seio.
Spike Lee alia entretenimento, humor e reflexão. Inclui imagens reais no final do filme, de incidentes a ver com o ressurgimento dos neo-nazis (Charlottesville, Agosto de 2017), em que foram pessoas atropeladas, prova de que há coisas que quase não mudaram desde 1973. E tais fenómenos extremistas estão a ter lugar também na Europa.
Há também inclusão de cenas de Birth of a Nation (de 1915, por D. W. Griffith, com pendor racista e exaltação do Klu Klux Klan, adaptado do romance "The Clansman"—já agora, convém ver o outro Birth of a Nation, de 2016, de Nate Parker) e Gone with Wind (de 1939, por Victor Fleming, que condescende sobre a escravatura e minimiza a violência do grupo racista Ku Klux Klan).
«So me being a filmmaker, a scholar and a cinephile, if you go through my body of work it's no secret that it's a critique of Hollywood cinema and it's not a great history», diz Spike Lee à já citada revista. «What Hollywood did to Native Americans is a disgrace: fuck John Wayne, fuck John Ford. I know they tried to make up for it with The Searchers [1956], in the same way D. W. Griffith did with Intolerance [1916], but too damn late, all of them. Hollywood has historically been about white supremacy, the superman.»
E é essa supremacia branca, tão Trump, que é exposta, denunciada e ridicularizada em BlacKkKlansman. O realizador não tem dúvidas sobre as consequências: «with this kind of White House it's not just affecting black people, it's affecting the world.» E situa as coisas desta forma: «People have got to understand that this is not a black and white issue, it is an issue about love versus hatred. These guys are gansgters—they don't give a fuck. Politicians are politicians, but at least back in the day they would lie about it [laughs], or at least give you a smile, whereas now this is straight-up: "We don't give a fuck".»
Refere ainda que o "Agente Laranja", para não mencionar o nome de baptismo do presidente americano, só honra o dinheiro, perante a falta de ética e noção do certo e do errado.
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Conexões:
Entrevista à Rolling Stone (2.8.2018)
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