Aqui fica um mix dos nomes chamados aos madeirenses, aos continentais e aos estrangeiros durante a acção cívica e ambiental envolvendo algumas obras no litoral, em que o Jardim do Mar foi um caso paradigmático e mediático.
Diz-se que a violência gera violência. «Escorraçou[-se] daqui para fora uns indivíduos que vinham falar de ambiente» (Jornal da Madeira, 13 de Setembro de 2004), disse-se na inauguração da estrada/promenade do Jardim do Mar.
Agrediu-se, a todo o tempo, com os epítetos de «marginais», «drogados», «comunas», «tontos», «sabotadores», «desordeiros», «formiga branca», entre outros nomes.
Opta-se pelo acicatamento das massas e pela batalha campal, em lugar de esgrimir-se argumentos num campo racional, porque assim se arrasta a multidão, emocionalmente, para onde interessa e convém. Agora, fica-se ofendido quando, num texto (ninguém cá viu ainda o filme) sobre um documentário, se refere que é um governo «driven by corruption and greed»?
Pessoalmente, não usaria a contundência verbal usada na Madeira ou outra justificação para acusar o governo. Mas, quando se atira pedras... É típico sermos intolerantes quando os outros fazem o que nós mesmos fazemos...
É incrível como os surfistas passaram de bestiais (tão importantes para o desporto naútico, a imagem da Madeira e para a economia local) a bestas logo que começaram a fazer umas perguntas... ou já ninguém se lembra disso?
Nem na inauguração da obra, depois do Governo levar a melhor e ter feito a obra, se apelou à pacificação. Pelo contrário, foi mais um momento para insistir numa campanha de ódio com quem pensou diferente, sustentadamente. A onda de nomes e insultos foi tão expressiva que permitia fazer big wave surf:
1. «Uma campanha do Diário [de Notícias da Madeira] alimentada por pseudo-ambientalistas zaragateiros e participada por alguns “surfistas” estrangeiros, os quais a população do Jardim do Mar sabe se tratar de “turismo pé-descalço”.»
(Comunicado da presidência – Diário de Notícias da Madeira, Novembro 9, 2002)
2. “O presidente do Governo anunciou que os trabalhos estão em curso e não vão parar devido aos protestos de “uns tontos que dizem que a obra estraga as ondas”.”
(Alberto João Jardim - Diário de Notícias da Madeira, Janeiro 15, 2003)
3. “Os comunas verdes do ambiente vão fazer uma cimeira do litoral... Será que ao menos sabem nadar?”
(Cartoon - Jornal da Madeira, Setembro 18, 2003)
4. “Os ambientalistas de aquém e de além mar descobriram a Madeira. Só aqui é que eles têm audiência...”
(Cartoon - Jornal da Madeira, Setembro 20, 2003)
5. “Uma tal cimeira do mar em defesa do litoral decorreu na Região... É mais uma acção do PCP e seus apêndices contra o desenvolvimento da Madeira...”
(Cartoon - Jornal da Madeira, Setembro 22, 2003)
6. “Afinal há surf no Jardim do Mar. [...]
Afinal, o que socialistas e comunistas não queriam era as obras.
Afinal, que dirá o Povo do Jardim do Mar a estes falsos ambientalistas, quando em sua futura e “querida” visita?...”
(Alberto João Jardim, Jornal da Madeira, Novembro…, 2003)
7. "Foi um folclore alimentado por falsos ambientalistas e sabotadores da economia, que defendem um turismo de pé descalço como é aquele trazido pelos senhores do Surf do Jardim do Mar. Vão fazer Surf para outro lado."
(Presidente do Governo - RDP-Madeira, Abril 2003)
8. O presidente do Governo, depois de prometer a continuidade de desenvolvimento na freguesia, apelou ao bom senso e disse que a população tem que «identificar as formigas brancas».
(...) "maus da fita" – que o governante acusa de serem analfabetos que pretendiam tornar a freguesia num antro de droga.
(Inauguração da estrada/promenade - Diário de Notícias, Setembro 13, 2004)
9. Jardim desafiou ontem a população do Jardim do Mar a “mandar embora” «os desordeiros e os marginais que não querem o desenvolvimento da freguesia».
Alberto João Jardim exortou ontem a população do Jardim do Mar a eliminar a “formiga branca”: «um grupo de marginais, de desordeiros, que têm estado sempre contra o desenvolvimento».
«Há pouco, o senhor presidente da Câmara da Calheta referiu um momento importante. Quando o povo do Jardim do Mar, escorraçou daqui para fora uns indivíduos que vinham falar de ambiente sem saberem do que estavam falando» — referiu. Neste sentido, aconselhou a população a, «sempre que apareçam por aí desordeiros», «correr com eles». Alberto João Jardim lembrou ainda que o Executivo foi pressionado «com faxes estranhos, oriundos de associações esquisitas». «Há por trás de tudo isto interesses em deixar o Jardim do Mar tal e qual estava, mais atrasado, à mercê de gente esquisita, drogados e marginais».
(Inauguração da estrada/promenade - Jornal da Madeira, Setembro 13, 2004)
Bom levantamento dos factos!Fico impressionado e contente por alguém se disponibilizar a procurar e colocar na internet o sucedido! Os comentários transcritos(digitalizados)são elucidativos e mostram bem quem é o bom e quem é o mau!
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