«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, maio 14, 2006

107. Chamar nomes 2

photo credit: William Henry

Aqui e aqui (Diário), são feitos os seguintes comentários elucidativos:

«O Governo Regional já anunciou que vai processar os sujeitos que fizeram um Documentário, já em exibição nos Estados Unidos, a chamar nomes às autoridades regionais por causa ainda da saga surf no Jardim do Mar. Este Planeta acha tempo perdido, pedir indemnizações aos tipos das pranchas, uma caterva de turistas pé-descalço

Medalha de Plástico: surf
«Chamar nomes a governos e investidores por causa de uma tábua de onde o pessoal às vezes até dá uns trambolhões de cima em baixo!»


1. CONTRADIÇÃO
Que utilidade existirá em pedir indemnizações aos «pé-descalço»? Esta contradição está bem vista, mas mesmo quem não pode pagar pode ser processado nem que seja para marcar-se uma posição.

2. NÃO FOI SÓ SURF NEM SÓ SURFISTAS
Depois de tanta discussão, a acção cívica e ambiental motivada pela construção da estrada/promenade do Jardim do Mar continua a ser vista, de forma redutora, por causa do mediatismo e espectacularidade do surf ou outra razão qualquer, como uma acção motivada pelo surf e por estrangeiros/surfistas.
Além dos estrangeiros estiveram muitos portugueses madeirenses e portugueses continentais envolvidos activamente. Incluindo gente do Jardim do Mar (entre a tal «formiga branca» a «eliminar», como disse o presidente do Governo na respectiva inauguração, num esforço para pacificar... depois do Governo ter levado a melhor e feito a obra...).
Além do aspecto desportivo relativo ao surf, sem querer menosprezar este elemento, estiveram em causa razões ambientais, paisagísticas, económicas, sociais e culturais.
Para além do direito dos cidadãos serem ouvidos e poderem fazer-se ouvir, sem excepção (os que discordam da ideia do governo também merecem ser ouvidos e achados), quanto aos assuntos que lhes dizem directamente respeito e alteram as suas vidas. Sem serem hostilizados, psíquica e fisicamente, nem calados à força. Quem pensa ter razão tem de convencer os outros disso mesmo, democraticamente. Tem direito a ter oportunidade para o fazer. Do confronto de ideias pode sair uma ideia melhor, capaz de conciliar interesses e vontades. Ou será que ninguém se lembra da gravidade dos acontecimentos de então? Da instigação ao boicote, do calar pela força à violência e ao ódio? Para evitar discutir racionalmente as coisas.

3. CHAMAR NOMES

a) A sensibilidade relativamente ao chamar nomes às autoridades regionais releva e dá importância a um aspecto secundaríssimo da questão do filme documentário "Lost Jewel of the Atlantic". Ninguém viu o filme mas os pré-juízos estão feitos. Até se decide processar sem ver o filme.
Chamar nomes ao governo é assumido, bairristicamente, ser igual a chamar nomes a cada madeirense, como dita a leitura das próprias autoridades. O facto das mesmas autoridades chamarem nomes a tanta gente ou o facto dos nomes que chama a Save the Waves não ser nenhuma originalidade (ou pioneirismo) no momento actual da vida regional, não serve de atenuante ou de uma visão mais universal. Parece que só interessa a leitura do ataque externo a quem governa e/ou habita o "cantinho do Céu".
O director executivo da Save the Waves já comentou que «os produtores do filme não pensam que a população do Jardim do Mar ou da Madeira são hostis, nem pensam que o governo da Madeira seja mais corrupto que a maioria dos governos no mundo, incluindo o governo dos Estados Unidos.» Eles não têm dúvidas que se corrompeu o ambiente e a paisagem no caso do Jardim do Mar, usado como exemplo (ou epicentro) emblemático.
Já disse, e repito, que, pessoalmente, nem me daria ao trabalho de chamar nomes ao governo porque e as obras falam por si e as causas ambientais valem por si mesmas. O que faltava era dar oportunidades de vitmização e de "tocar a reunir" em torno do cómodo "ataque externo". Mas, pelos vistos, por cá ninguém deu conta que o chamar nomes poderá ser um chamariz para o filme e até uma forma de motivar reacções que lhe ajudem a dar publicidade extra e gratuita. Polémica e processos em tribunal são, com certeza, um bom isco para mais gente ver o filme.
A desvantagem é o acicatar do bairrismo e a vitimização interna. Nem se sabe ainda se esses nomes, que surgiram num texto sobre o filme, fazem parte do filme.

b) Não serve de justificação ou alibi, mas no post anterior está um apanhado de nomes que, sem honestidade intelectual, foram sendo chamados aos surfistas e aos madeirenses que estiveram na acção cívica e ambiental à volta da estrada/promenade do Jardim do Mar.

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