115. Reacção do Director Regional do Ambiente ao documentário que ninguém ainda viu

O Tribuna da Madeira dá hoje conta da reacção do Director Regional do Ambiente, Domingos Abreu, ao episódio do documentário da Save The Waves.

Note-se que ainda ninguém viu o filme - apenas o trailer. Alega-se que lá se chama corrupto ao Governo (é preciso confirmar), já se decidiu mover processos em tribunal e já se considera alguns desses cidadãos «criminosos», como agora afirma o Director Regional. A juntar a todos os outros nomes como «pé-descalço», «sabotadores», «comunas», «drogados», «marginais», que ao longo do tempo se foi chamando às pessoas que discordaram do tamanho da obra no Jardim do Mar - ninguém foi contra ela, ao contrário do que chegou a ser veiculado (pensa-se, à partida, que quem discorda está contra tudo).

Com razão
Numa coisa tem razão Domingos Abreu. Por isso, escolhe para linha de força da sua argumentação (e ataque) o facto de ter sido aberto, a dada altura, um período de consulta pública do estudo de impacte ambiental e as associações ambientalistas envolvidas não compareceram. Se foi por desconhecimento, revela pouco profissionalismo.
Mesmo que a consulta pública se resuma a uma formalidade burocrática, mesmo que seja pouco divulgada, mesmo que sejam só alguns os informados, mesmo que se jogue o jogo do gato e do rato, foi uma falha por parte das estruturas das associações ambientalistas envolvidas. Tal não deveria nem poderia ter acontecido. Mesmo que não adiantasse nada na prática, como alegam alguns, era mais uma oportunidade para reafirmar a argumentação.
Pelo menos evitaria este tipo de acusações parte de entidades regionais. Evitaria dar hipótese de dizer-se, por exemplo, citando o Director Regional: «para mim, é uma prova cabal absoluta, porque esta gente não quer nem está eivada de princípios nem objectivos ambientais.»
Conotar a acção ambiental legítima com objectivos mesquinhos e obscuros é uma estratégia clássica e comum, como se as causas ambientais não valessem por si e não fossem razão suficiente para mover os cidadãos.
E diz-se mais: «classifico essas entidades, sejam eles americanos, japoneses ou chineses, como pessoas que não estão interessadas em matéria ambiental, estão interessadas em exercícios de alucinação colectiva que não consigo descortinar.»
Uma falha num momento crucial retira credibilidade pública a quem procura defender o ambiente. Que sirva de lição, porque não é, sobretudo, a questão política que está em jogo para os ambientalistas, é o ambiente e o bem comum que ficam mais desprotegidos com associações enfraquecidas perante a opinião pública.
(Sobre o referido estudo de impacte ambiental da estrada/promenade do Jardim do Mar, o Olho de Fogo abordará num outro momento.)

Sem razão
A contundência e o carácter da expressão «são mesmo criminosos» já é outra coisa. Será tão desnecessário como chamar corrupto ao Governo. Aqui o Director Regional perde ou enfraquece a razão, porque o cidadão sabe ver as coisas. Tem a obra já feita no Jardim do Mar para visitar e ajuizar por si. Não vamos cair no erro do pressuposto que a opinião pública está desatenta ou não sabe pensar.
Diz-se a páginas tantas, «sejam eles quais forem, não são mais do que nós, são até menos. Tecnicamente, são um desastre, politicamente, pior, e como cidadãos são mesmo criminosos.» De notar que aqueles que estão convencidos e denunciaram que o tamanho da estrada/promenade do Jardim do Mar seria um crime ambiental e paisagístico, passam a ser considerados criminosos.

NOTA:
Como o Olho de Fogo prometeu, recentemente, será divulgado um balanço dessa acção cívica e ambiental na defesa do litoral madeirense, que aconteceu em 2002 e 2003. Está escrito há alguns meses e um dos aspectos negativos que se regista é a não comparência na discussão pública do estudo de impacte ambiental.

photo credit: Tribuna da Madeira 2006