«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

terça-feira, maio 30, 2006

126. «Pata rapada» 1

O surfista que visita a Madeira não se hospeda em hotéis de luxo...

Gilberto Teixeira escreveu no Jornal da Madeira:

«Como toda a gente reconhece, o turista das ondas do Jardim do Mar, não se hospeda em hotéis. De preferência quer cama mais baratinha e comida de plástico de preferência. Não é como os que aqui vêm, para jogar golfe que se hospedam em Hotéis de luxo, alugam carros topo de gama, e pagam bem para comer nos melhores restaurantes da Região.
Comparando uns e outros, é óbvio que existem as tais diferenças entre os cavalheiros de boa cepa e os tais tipo pata rapada. Por outro lado, os surfistas estrangeiros não chegam ao meio milhar por ano. As ondas fazem muito mal a outras coisas bem importantes que implicam a segurança dos residentes naquela freguesia.»


O ariculista refere ainda que aquela polémica estrada/promenade é «uma grande obra, de interesse público para a população do Jardim do Mar», sendo «utópico» «dizer que o turismo do surf é importante para a Madeira. É uma tremenda mentira. Não tem qualquer interesse nem em quantidade nem em qualidade.»

O Surf é um nicho de mercado. É importante nessa medida. Por que não aproveitar também este nicho de turismo amigo do ambiente e apreciador da natureza autêntica da Madeira?
O dinheiro que deixam não satisfaz os donos dos tais carros de aluguer topo de gama ou dos hotéis de luxo de que fala Gilberto Teixeira. Apesar de haver surfistas com dinheiro e posição social para carros e hotéis de luxo, o seu modo de vida faz com que atribuam prioridade a outros aspectos.
Os factos e os eventos apontam no sentido de que não havia interesse em que, nalgumas pequenas freguesias da Madeira, como o Jardim do Mar, se deixasse uns pequenos hotéis, estalagens, empresas rent a car e restaurantes ganhar o seu pão. O que é pouco para uns é bom negócio para outros, à sua escala.

O surfista não aluga um carro de luxo para dar um giro pela ilha – aluga carros "normais" para fazer muitas viagens pela ilha, entre o sul e o norte, à procura das melhores ondas.
Surfar exige estar em forma. O surfista não come, normalmente, comida de plástico – cultiva um estilo de vida saudável, que inclui, em muitos casos, ementas vegetarianas. Se faz gastos em restaurantes "normais" e em supermercados, isso é de desprezar?
O surfista está ligado à natureza – a natureza não se resume à onda ou, na perspectiva de outros, ao relvado de um campo de golf. As ondas têm a vantagem de estar já construídas, basta não destruir o que fez bem feito a natureza.

O surf foi alvo de atenção mediática, patrocínios de entidades públicas regionais e locais e falou-se de benefícios económicos ao nível local. Mas, quando os surfistas revelaram uma “inconveniente”cultura, inteligência e sensibilidade ecológicas, que atrapalharia algumas intervenções no litoral... Quando se percebeu que pensavam criticamente... Quando se percebeu que não se limitavam a surfar, a deixar o dinheiro e difundir bonitas imagens da Madeira aí pelo mundo...

Curiosamente, nos dias de hoje, são também os turistas do hotel de luxo que perguntam a razão daquela desmesurada construção mar adentro, ao longo de toda a frente mar do Jardim do Mar. Afinal, estes turistas também têm sensibilidade ambiental e impressiona-lhes também o nível da denunciada artificialização do litoral.

3 comentários:

  1. Subscrevo inteiramente o comentario do paulo barata! Sou surfista apenas por 'afinidade' (a minha filha +velha despertou para o surf aos 27!!:), mas não há duvida de q o maior património de qualquer região é a Natureza impoluta. Infelizmente, patrimonio desse tipo vai escasseando (e é triste q a Madeira n seja excepçao), mtas vezes destruído para promover o tal 'turismo de qualidade' (?) e os espaços verdes artificiais aka campos de golfe!
    stone

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  2. É natural e legítimo que se procure tirar partido económico da costa da Madeira.
    Todavia, há formas de intervenção radicais e formas de intervenção moderadas (planeadas, ponderadas, debatidas e sustentadas). Interessa assegurar equilíbrios e evitar acentuadas artificializações. Manter o que é autêntico e genuíno. O que nos distingue.
    Um exemplo mediatizado: A muito falada estrada/promenade do Jardim do Mar é um caso em que um projecto mais comedido (protecção feita com uma estrada mais estreita, sem ocupar todo o calhau e sem a barreira de antifers mar adentro, isto é, com menos impactos negativos) teria acautelado e conciliado todos os interesses em jogo:
    segurança, turismo, negócio imobiliário, emprego, paisagem, ambiente, lazer, desporto (surf), entre outros. A obra nem veio dar acesso às habitações na zona.
    Mas, dia menos dia, serão visíveis todas as razões que "obrigaram": 1. à metodologia de batalha campal, para afastar e anular as vozes críticas e seus argumentos de base racional e democrática; 2. a não conciliar todos os interesses em jogo; 3. a entrar mar adentro com a construção...

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  3. Excelente post. Não podia estar mais de acordo. O Sr. Alberto João Jardim esquece-se que daqui a 50 anos o surf pode ser muito mais mainstream do que é agora. Mesmo que não o seja, porquê arrumar com a natureza?

    Qualquer dia a laurissilva é um gigantesco "parque natural" de campo de golfe. O que interessa é o dinheiro.


    Fica bem

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