Na RTP-Madeira, num directo da Praça do Município, dez minutos antes de começar o Portugal-Irão, o repórter constata a indumentária de um adepto que entrevistava, com cachecol, bandeira portuguesa a cobrir o tronco, entre outros artefactos alusivos à selecção nacional.
Depois faz esta pergunta, que parafraseio:
Identificas-te com a pátria e tens orgulho em ser português ou é só por causa do mundial?
O rapaz entrevistado, que não deve ter percebido a razão da pergunta, respondeu afirmativamente que tinha orgulho em ser português.
Parece uma situação inócua, mas não é. Não parece que o repórter pretendesse provar que que os madeirenses têm orgulho em serem portugueses ou fazer o adepto explicitar o seu amor pátrio, porque é suposto e natural que assim seja. Pela razão e pela lógica percebe-se que a intenção e os fins da pergunta eram outros. A tese que se tentou provar era diversa.
Pense-se um pouco e fica à mostra coisas terríveis, demonstrativas de um provincianismo e de um bairrismo (para nem dizer fundamentalismo) saloios. Note-se o que, à volta de um simples jogo de futebol, as conclusões que se queriam extrair e motivar com uma pergunta cheia de veneno, uma armadilha, seja consciente ou não. Quando era evidente que a pessoa entrevistada se identificava com a pátria e se sentia português. Valeu a clareza de pensamento e espírito do fã da selecção.
Esperava que o adepto dissesse que os símbolos portugueses que envergava, com gosto e orgulho, notava-se no entusiasmo, era só uma questão de imagem e não de verdadeiro sentimento e identificação com o país que a selecção representa? Que era só por causa do madeirense Cristiano Ronaldo? Que era só naquele momento por causa do futebol porque ele não era português mas sim madeirense, que a sua pátria era a Madeira e não Portugal? Que acabando o jogo atiraria ao chão ou queimaria a bandeira nacional? Será justo e possível esperar que os madeirenses não se identifiquem com a pátria portuguesa e não sintam orgulho de serem portugueses? É suposto que sejam divisionistas e independentistas? Deve ser a febre da autoviabilidade a tomar conta das mentes...
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