Jornalista na passerelle do parlamento regional, na apresentação da colecção Outono-Inverno, sem sapatilhas, com gravata e um casaco cuja cor foi entendida como desrespeito pela instituição. Tal deu direito a expulsão do local, prontamente consumada por um deligente contínuo. Só o cinzento, o azul escuro e o castanho são afinal permitidos, esclareceu uma nota oficial enviada para as redacções, ao princípio da noite, para «evitar, de uma vez por todas, mais barramentos de entrada na casa da democracia.»
O respeito por uma instituição mede-se pelo calçado e pela roupa que se usa. Quem pensou que o respeito pela instituição parlamentar se media, essencialmente, pelas atitudes dos deputados e a qualidade das suas intervenções e realizações, ao serviço da população, estava equivocado. Se um cidadão vai assistir aos trabalhos na Assembleia Legislativa da Madeira ou se um jornalista lá vai trabalhar tem de ir de fato, gravata e sapatos de verniz de sola seca com 0,4 cm de espessura. Há que definir o «minimamente apresentável». Mas, como o traduzir em concreto, em peças de vestuário?
Pois bem, a apresentação da colecção Outono-Inverno na Assembleia Legislativa Regional foi uma forma airosa de ultrapassar a dificuldade, com a vantagem da abertura do parlamento à sociedade civil, desta feita com um assunto-evento mais leve, alegre e fashion. Ao desfilarem os jornalistas com as novas propostas, pela passerelle, os deputados colocavam o polegar para cima, em sinal de aprovação, ou para baixo, em sinal de reprovação. O presidente tinha, contudo, o voto de qualidade. Aprovada a colecção, não há mais que enganar.
Pensava-se que confundir o acessório (formal e circunstancial) com o principal (conteúdo) era um mal endémico madeirense, mas o que não tem importância também tem o direito a ter importância, nem que seja para desviar atenções dos assuntos que são passíveis de trazer à realidade e de aborrecer os cidadãos eleitores.
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