Aquando do "Madeira Big Wave Team Challenge", em 2000, a que se reporta a imagem (copyright: Shawn Alladio) o Surf ainda era considerado importante para a economia da Madeira pelos políticos locais e regionais, importância traduzida em apoios para competições, porque havia o retorno na promoção. De repente, quando foi preciso fazer obras na costa, os surfistas passaram de profetas a demónios comunistas. Até o mural na imagem, considerado um ex-libris do Jardim do Mar, pintado por um surfista e muito fotografado por turistas, foi já tapado face ao seu valor simbólico. Ondas? Nem pintadas.
A indústria do surf, na actual conjuntura de crise económica do país, cresce a olhos vistos. É das actividades que apresentam maior índice de prosperidade em Portugal. Pelos vistos, segundo nos dizem aqui na Região, é algo que não interessa à Madeira, cuja economia é altamente produtiva e não precisa de aproveitar a indústria do Surf... essa indústria dos «pata-rapada»...
Todavia, há outras zonas do mundo (vide aqui) e do país que aproveitam a prosperidade do Surf. É o caso da Ericeira, que já tem três fábricas, dez escolas de Surf e inúmeras lojas. «Fábricas de pranchas, lojas de roupa desportiva, escolas de surf, albergues e campismo com tendas especiais para colocar a prancha são algumas das actividades que proliferam na Ericeira desde que os surfistas elegeram a vila como a "Meca" do surf» (Diário de Notícias da Madeira, 14.08.2006 - suplemento economia).
«A qualidade das ondas da Ericeira atraiu não só surfistas de todo o mundo como uma autêntica indústria ligada a este desporto.»
Na Madeira, o Jardim do Mar poderia ser hoje uma "Meca" do surf como a Ericeira. Isso teria um impacto económico muito importante numa freguesia como o Jardim do Mar e no Concelho da Calheta. Mas não só. Outras localidades em redor da ilha, com bons surf spots, conheceriam também proveito económico.
A opção pela destruição ou danificação de alguns surf spots importantes na Madeira inviabilizaram ou dificultaram as possibilidades que este nicho de actividade económica e turística tinha para prosperar. Para nem falar na hostilidade que, a determinada altura, alguns passaram a evidenciar face aos surfistas, devido à massa crítica colocada por eles na defesa dos surf spots e exotismo/património natural da ilha.
«O incremento do surf na histórica vila piscatória é visto também pela Junta de Freguesia da Ericeira como "uma das actividades mais importantes para a economia local. É uma actividade que atrai muitos turistas, traz mais valias para a restauração e hotelaria", disse à Lusa Joaquim Casado, presidente da junta de freguesia.»
Será preciso acrescentar mais alguma coisa a estas palavras?
É pena que certos desígnios se tenham atravessado no proveito económico que a Madeira, particularmente algumas freguesias costeiras, tinha a tirar do Surf. Não era preciso subsidiar os surfistas para virem cá surfar nem era necessário construir ondas. Apenas as não danificar ou destruir. Além de o Surf não dar despesa, promovia o exotismo e a autenticidade da ilha pelo mundo inteiro.
São as características naturais, genuínas e exóticas que trazem o turismo de qualidade à Madeira. Os alegados «pé-descalço» poderiam coexistir com os turistas de luxo; a indústria do Surf poderia coexistir com o turismo de luxo. Mais do que isso, o Surf potenciaria o turismo de qualidade porque difunde a imagem da Madeira autêntica e ajuda a preservá-la.
Mas, como é público, os "tipos das pranchas" não interessam... O pequeno comércio local e familiar não poderia ganhar dinheiro (de grão em grão enchiam o papo) com o turismo pé-descalço. Interessa que sejam apenas uns tubarões a fazer dinheiro, com outros turismos. E para esses o turismo surfista representa apenas ninharias... migalhas... trocos... por isso, não interessa... Como diz a canção: "those are the big fish who always try to eat down the small fish" ("guiltiness", Bob Marley & The Wailers, Exodus: 1977).
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