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O cerne da questão, como tem sido salientado e hoje sublinha o Diário, na notíca sobre a estreia do Lost Jewel of the Atlantic na Madeira, é a chamada "política do betão". Ou o "fim de ciclo" de um dado modelo de desenvolvimento, como outros têm referido. É esse ponto sensível ou essa ferida já aberta na actualidade política regional, que acaba por ganhar exposição no filme-documentário produzido pela Save the Waves/Beetleswamp Productions. O realizador é Jacob Holcomb.
No entanto, isso não faz do documentário "A jóia perdida do Atlântico", pelo que é dado a perceber, um acto político. A ferida já existe. Não se trata de uma originalidade. Será, sim, uma outra perspectiva, um outro ângulo de abordagem.
Não se pode confundir sentido crítico com "bota abaixo" e "ataque à Madeira e ao seu Povo". Apesar da utilização do adjectivo «corrupto» num texto da Save the Waves, que anunciou a estreia do filme em Maio (ver post seguinte). Entretanto, a palavra «corrupto» não mais foi usada. Não se sabe se é utilizada no filme. A estreia no Funchal é a oportunidade das pessoas poderem verificar por elas mesmas.
É um dos temas deste Verão. A "política do betão" não é, pois, novidade e tem sido particularmente visada nos últimos tempos. Por políticos, ambientalistas, empresários, comentadores e cidadãos. As críticas surgem da sociedade civil e de vários quadrantes políticos, incluindo da esfera política do partido que suporta o Governo Regional. Ora vejamos, só neste mês de Agosto, algumas vozes que se fizeram ouvir:
NOTÍCIA NO DIÁRIO
«O documentário da organização internacional Save the Waves [...] faz uma crítica velada à política do Governo Regional relativamente a algumas obras levadas a cabo no litoral da ilha da Madeira».
«Lost Jewel of the Atlantic, onde a imagem e a "política de betão" do Governo são retratadas em termos pouco ou nada abonatórios, especialmente por causa do enrocamento de protecção e passeio da vila do Jardim do Mar».
«Para aquela organização internacional, a muralha de protecção [do Jardim do Mar] destruiu não só as melhores ondas da Europa como também toda uma paisagem natural única.»
(Diário de Notícias da Madeira, 29.08.2006)
VIRGÍLIO PEREIRA
Virgílio Pereira alerta para o cuidado ambiental, evitando-se certas intervenções e contruções, para não matar o Turismo, a "galinha dos ovos de ouro" da Madeira:
«Em jeito de balanço do que de positivo aconteceu nos últimos tempos, Virgílio Pereira fala num conjunto notável de "realizações e execuções". (...) Mas já é chegado o momento de mudar de estratégia. Criadas as condições necessárias e indispensáveis, é altura de dar espaço ao investimento em áreas altamente reprodutivas. Como o conhecimento, as tecnologias de ponta, a formação, a educação. Tudo áreas por conquistar. Mas há que não esquecer o turismo, apostando na promoção e no cuidado ambiental. O ambiente tem de ser tratado com rigor evitando intervenções, com construções ou atitudes, que "matem uma das galinhas de ouro da Madeira", como tem vindo a acontecer.»
(Diário de Notícias da Madeira, 03.08.2006)
JOÃO WELSH (ACIF-CCIM)
“Exotismo versus a sofisticação” «É o exotismo, que deve ser considerada a palavra chave. É isto que as pessoas querem». Sobre a sofisticação diz que não serve os interesses do turismo. E, ao não servir para os turistas estamos a arrecadar cada vez menos receitas da nossa actividade económica principal: o turismo. E a ideia é conseguir mais e assim conseguirmos também mais riqueza para os madeirenses.A apostar-se na quantidade, maior número de camas, e não na qualidade «estaremos a trabalhar mais para receber menos, pondo em causa os índices de produtividade, prejudicando assim a economia da Madeira». «Não se deveria construir nada sem saber qual o impacto que teria no turismo e no macro-produto Madeira».«Basta ver que o turismo tem vindo a crescer a nível mundial todos os anos e a madeira não». (...) Enquanto outros destinos atingem os 1000 euros por cama, a Madeira está com 250 euros.
(Jornal da Madeira, 04.08.2006)
GILBERTO TEIXEIRA
«Façam outro favor: não degradem a paisagem deslumbrante da Região. Se formos capazes de não estragar e preservar o que temos de mais valioso, jamais faltarão turistas à Região. Cuidem do ambiente, por favor… não conspurquem a paisagem com mais monstruosidades. Há vales que são um desafio à recuperação… Isto é mais importante que todas as “sociedades” ditas de promoção.»
(Jornal da Madeira, 17.08. 2006)
CARLOS PEREIRA
«A economia regional vive momentos muito difíceis porque, nos últimos 30 anos, o GR não a preparou convenientemente. Os fundos públicos nacionais e comunitários foram, na maior parte dos casos, mal usados na medida em que não partiram da estratégia adequada. Verificou-se um excesso de obras públicas, ultrapassando os limites do razoável, sem preocupações de viabilidade e sustentabilidade, deixando para trás investimentos fundamentais para a economia regional, como a educação e formação, a aposta na inovação e no conhecimento.»
(Tribuna da Madeira, 25.08.2006)
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