Um dos méritos do presidente do Governo Regional, que apanha por vezes alguns desprevenidos, é este: quando os factos o demonstram tem a clarividência e coragem para alterar a sua posição inicial, se necessário e justificado, sobre um dado assunto. A serenidade com que reagiu à estreia do filme será já uma prova disso mesmo? Se as circunstâncias se alteram, as posições também podem alterar-se. As primeiras declarações sobre a estreia do documentário Jóia perdida do Atlântico indiciam isso. Ou aparentemente indiciam isso. Mesmo que não se dê o braço a torcer, ao menos deixe-se os outros exprimir livre e democraticamente o seu ponto de vista e os seus argumentos.
Embora o presidente do Governo insista que o paredão/promenade do Jardim do Mar não afectou as ondas (aqui o presidente do Governo estará mal informado e aconselhado) talvez se comece a prestar mais atenção aos recursos que, afinal, a Madeira poderá ter e tem. As ondas podem constituir um pequeno filão de ouro já que podem ser exploradas economicamente. Podem constituir um cartaz de promoção da imagem exótica e autêntica da Madeira. Os desportos náuticos como o surf ou o bodyboard poderão ser um nicho de mercado interessante, pelo menos localmente, para algumas localidades da ilha, como São Vicente ou o Jardim do Mar. Não atrapalha os outros turismos - senior, de luxo, de golf -, promove o turismo de natureza ou ecológico e, sobretudo em tempo de crise, o dinheiro que os surfistas deixam tem o seu peso.
Além do mais, embora o presidente do Governo deixe uma suspeição («se repararem gasta-se muito dinheiro que, à primeira vista, a pequenez e riqueza do território não o justificava. Portanto, agora as pessoas que pensem porque é») já deve ter percebido que não existe nenhuma motivação ou estratégia político-partidária, maçónica ou comunista contra o Governo Regional ou a Madeira por detrás da causa desportivo-ambiental do filme da Save the Waves. Não há nada encoberto.
A causa ambiental vale por si mesma. Não precisa ser politizada. Não é a Save the Waves que tem politizado a questão, se analisarmos os factos. Agora, se há partidos ou quem utilize a causa ambiental do filme, para justificar ataques políticos contra a Save the Waves ou então como arma de arremesso contra o Governo Regional, é algo que ultrapassa a própria associação americana. Esta tem procurado evitar a politização. Mas, a Madeira parece ser um lugar demasiado politizado...
JORNAL DA MADEIRA
"Já sobre o documentário Save de Waves, cuja exibição se prevê na Madeira durante o mês de Setembro e que consiste num trabalho crítico à muralha que se fez na freguesia do Jardim do Mar e que, alegadamente, veio estragar o surf que ali se praticava, o presidente do Governo Regional está calmo e sereno.
«Quem for ao Jardim do Mar, vê que lá está um trabalho bem feito e que continua a haver ondas de surf», sublinhou Alberto João Jardim, para logo adiantar que começa a pensar «que a Madeira tem mais recursos do que a gente sabe. Esses recursos estão a uma grande profundidade e, neste momento, não é rentável explorá-los». «Se repararem», prosseguiu o seu raciocínio, «gasta-se muito dinheiro que, à primeira vista, a pequenez e riqueza do território não o justificava. Portanto, agora as pessoas que pensem porque é»."
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
"No areal da Ilha Dourada, o líder do Governo Regional pronunciou-se ainda sobre o documentário da organização internacional Save The Waves, que conforme avançou o DIÁRIO vai estrear-se na Região, no próximo mês.
«Começo a pensar que a Madeira tem recursos do que a gente não sabe. Ou melhor, sabemos, só que estão a grande profundidade e, por enquanto, não é rentável explora-los», afirmou Jardim, estranhando o facto de gastar-se «tanto dinheiro na Madeira», sendo que, à primeira vista, «a pequenez e a pobreza do território não o justifica».
Sem querer tecer mais comentários sobre este assunto, o presidente do Governo desafiou as pessoas a se deslocarem ao Jardim do Mar para constatarem "in loco" que a obra está bem feita e não derrubou as ondas. «Têm dinheiro para alugar uma sala, bom proveito», concluiu."
(30.08.2006)
Sem comentários:
Enviar um comentário