Com a devida vénia ao Tribuna da Madeira, aqui deixamos um link para a entrevista ao director da Save the Waves publicada na edição de hoje, dia em que o filme estreia em Lisboa.
É uma entrevista serena, ponderada, racional, factual e não politizada. Nesse aspecto o título de capa, Surfistas dão "pranchada" no Governo, pode ser enganador, mas percebe-se a intenção de colocar alguma pimenta para captar a atenção dos leitores. Há uma dose de humor subjacente à expressão "pranchada" que alivia a tensão e confere mais leveza ao título.
Alguns destaques:
«A nossa intenção nunca foi fazer um retrato da Madeira de uma forma negativa. Pelo contrário, é um dos meus lugares favoritos no planeta. Alguns dos meus melhores amigos vivem na ilha e, de forma geral, é um lugar fantástico habitado por pessoas fantásticas. O nosso filme pretende, apenas, mostrar a verdade sobre o que aconteceu à linha de costa madeirense, procurando explicar as razões que terão levado a essa mudança. Alguns homens ricos ficaram ainda mais ricos, enquanto os cidadãos comuns da Madeira perderam algo que é importante para a sua identidade, para o seu modo de vida, perderam a possibilidade de usufruir da beleza natural da ilha.»
«O Governo [Regional] devia ter envolvido a sociedade local no planeamento dos projectos, em vez de manter os debates públicos estrategicamente escondidos. Deviam também ter ouvido os habitantes da freguesia e os surfistas. Ninguém estava contra a construção de uma «promenade» ao longo da costa do Jardim do Mar – foi contra a largura da mesma que todos nos opusemos. Se a tivessem feito mais pequena, não haveria qualquer problema. O lugar de «surf» teria ficado sem estragos, e o muro de protecção teria sido construído. Em vez disso, o Governo recusou estabelecer um compromisso, e agora a freguesia perdeu muita da sua beleza e o seu mais importante recurso turístico – a onda.»
«A Madeira é um exemplo de um problema que tem vindo a acontecer em todo o mundo. De uma forma geral, o ambiente está a ser destruído de maneira a que algumas pessoas possam obter riqueza rápida, à custa de prejuízos duradouros para a generalidade das pessoas. Mais especificamente, o Governo da Madeira desrespeitou completamente as maravilhas que a ilha possui: zonas de «surf» esculpidas por Deus, das melhores que existem. É um dos piores exemplos de gestão ambiental que eu já vi em todo o mundo. O presidente [Alberto João Jardim] chegou a chamar os surfistas de “turistas de «pé descalço»”. Ao dizer isto, provou não estar em contacto com a realidade do mundo moderno. O futuro do turismo não depende de grandes hotéis e campos de golfe, mas de desportos de aventura e de natureza, que dependem da preservação do meio ambiente. O «surf» é uma industria que gera milhões de dólares por todo o mundo. Os turistas do «surf» actuais já não fazem parte do estereótipo que existia no passado. Muitos viajam com as suas famílias e hospedam-se em bons hotéis, alugam carros, etc. Por descurar esta vertente do turismo para a Madeira, e por acabar com ele ainda antes que tivéssemos possibilidades de ver o seu potencial, o Governo [Regional] cometeu um erro grave, que irá certamente ter implicações no futuro do turismo na ilha.»
«Penso que, no futuro, o turismo em geral também irá sofrer, porque as pessoas vão para a Madeira para desfrutar das suas belezas naturais, não para ver blocos de betão. É claro que isto não é resultado da nossa campanha. A culpa está completamente aos ombros dos responsáveis governamentais que permitiram que isto acontecesse.»
(Tribuna da Madeira 01.09.2006)
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