«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, setembro 16, 2006

42. Seriam possíveis outras opções


Raquel Gonçalves: «Numa primeira fase, até a população do Jardim do Mar comprou esta versão, mas agora já se queixa de que com o fim das ondas e do "surf" a freguesia ficou a perder.»

«O fim das ondas no Jardim do Mar continua a dar que falar. Não é que depois das manifestações, pró e contra, os turistas de "pata-rapada" ou os drogados como chegaram a ser simpaticamente chamados, em mais uma demonstração de que a boa educação e a fineza de trato é a imagem de marca cá do burgo, resolveram fazer um filme.

Na versão oficial, a produção não passa de um devaneio de meia dúzia de "patas-rapadas", feita sob o efeito nefasto de uma qualquer droga, para prejudicar o tão aclamado progresso.

Numa primeira fase, até a população do Jardim do Mar comprou esta versão, mas agora já se queixa de que com o fim das ondas e do "surf" a freguesia ficou a perder. Antes conhecida como um dos melhores paraísos do "surf" ao nível europeu, agora continua a ser notícia, mas não propriamente pelas melhores razões. Ninguém questiona que alguma coisa deveria ser feita para travar a erosão do mar, mas se calhar eram possíveis outras opções, que garantissem que o dinheiro continuaria a entrar nos cofres de quem tem negócios no local.

A visão simplista de que em causa estava um bando de malfeitores, só porque andavam de calções e de pé descalço, afinal revelou-se errada. O hábito não faz o monge, diz a sabedoria popular. Mas isso é só verdade se não vivermos na Madeira. Aqui andar de calções e descalço é quase tão grave como ir para a Assembleia de sapatilhas e calças de ganga.

Esta visão do mundo não só está desajustada da realidade, como demonstra uma tentativa de uniformizar estilos e vontades. Não só um jornalista de sapatilhas não é menos jornalista por isso, como um surfista descalço não tem de ser um pata-rapada. Até porque, na maior parte das vezes, é apenas um turista com dinheiro suficiente para deslocar-se à Madeira apenas para fazer surf.»
(Raquel Gonçalves, "Análise da Semana", Diário de Notícias da Madeira, 16.09.2006)

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