«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

quarta-feira, outubro 18, 2006

Professores de luto e em luta 14: Causa Nossa (Vital Moreira) versus Abrupto





No Causa Nossa, Vital Moreira, referindo-se à luta dos professores, neste que foi o segundo dia de greve nacional, ainda por cima com boa adesão:

«Sempre que um sector profissional ou uma corporação se sentem ameaçados nos seus interesses por uma reforma, logo vem a ladaínha de que "as reformas só se podem fazer com os interessados". Trata-se, porém, de uma contradição nos termos. Como é que se pode implementar uma reforma "com os interessados", se a única coisa que os interessados querem é justamente manter o "status quo"!? É evidente que as mudanças que implicam perda de regalias ou privilégios só se podem fazer contra os interessados...»

Percebe-se a lógica. Então que os responsáveis políticos sejam frontais, consequentes e não simulem negociações. Mas não ficava bem. É preciso dar um ar de negociação. Parece que a moda agora é ouvir e calar. Há uma verdade, uma one best way. Nunca tão poucos estiveram tão convencidos que sabem o que é melhor para todos, ao ponto de dispensar a negociação. Não ouçam, não negoceiem, não liguem.

Por outro lado, quem está convencido que tem as suas razões, além das corporativas, tem direito a manifestar a sua opinião, indignação e lutar pelo que considera mais justo. Há vários meios para o fazer, antes e depois de aprovadas as medidas.

No caso dos professores, o Ministério da Educação radicalizou tanto a proposta de estatuto de carreira docente (ao ponto de a intitular e despromover, na primeira versão, a Regime Legal de Carreira do Pessoal Docente...), que "obrigou" os sindicatos a uma posição defensiva. Há medidas que nem lembrariam à Margaret Thatcher. Para nem falar no achincalhamento público dos docentes, no defender-se que « é ilusão dizer que os professores se motivam pela progressão na carreira» (secretário de estado Jorge Pedreira, RTP2, 4 de Outubro, convencido que a docência é um sacerdócio cuja recompensa não é deste mundo mas sim do mundo que há-de vir...) ou dizer «quantos actores ou músicos adoram o trabalho que fazem e no entanto são mal remunerados» (ministra da Educação no "Acção Socialista" a deixar perceber o que quer fazer e exigir aos professores...). Ou será que os docentes deveriam aceitar o inaceitável, o ilegal, o alegadamente inconstitucional contido na nova proposta de estatuto? Trata-se de um jogo de forças, de ganhos e perdas.

Não esqueçamos o pano de fundo: os professores sabem o que está em causa, porque já o viram acontecer em outros países. Está documentado. As últimas décadas mostram que, nas reformas neoliberais (sejam da autoria da direita neo-fordista - neo-conservadorismo + neoliberalismo - ou da esquerda ou centro-esquerda, esta conhecida por Terceira Via - socialismo democrático + neoliberalismo), os professores são uma das partes prejudicadas (além dos cidadãos - por a educação passar a ser um serviço e não um direito, a centrar-se nos resultados e não nos processos, a fomentar o conservadorismo pedagógico, etc.) no sistema educativo: intensificação do trabalho e perda de poder reivindicativo, que se repercute na carreira e massa salarial. A ver vamos se os professores portugueses conseguem contrariar este fado, esta lógica economicista disfarçada de boas intenções (educação de excelência, etc.).





Recorde-se uma posição diferente, a de Pacheco Pereira: no Abrupto, LENDO, VENDO, OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 6 de Outubro de 2006, afirma que a «manifestação dos professores [5 de Outubro] não foi apenas uma manifestação bem sucedida para os sindicatos, não foi apenas a "maior" manifestação dos professores, foi um elemento qualitativamente novo na análise da situação do nosso ensino.» E porquê? Porque é evidente que «mostra uma ruptura entre os professores e o Ministério sem precedentes e que não pode deixar de ter consequências sobre o que se passa nas escolas

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