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Ninguém estava à espera. Esperava-se, quanto muito, que fosse Marques Mendes e a bancada do PSD a puxar pela Lei de Finanças Regionais para atacar e atrapalhar Sócrates, no dia em que se iniciou a discussão do Orçamento de Estado, na Assembleia da República.
No raiar dos trabalhos, no discurso de abertura, Sócrates colhe todos de surpresa não só por abordar a polémica à volta da Lei de Finanças Regionais como também, e sobretudo, pela forma demolidora com que atacou certas posturas e acções referentes ao presidente do Governo Regional da Madeira:
«Conhecemos todos a reacção destemperada do presidente do Governo Regional da Madeira quando lhe dizem que há regras para cumprir e que a disciplina orçamental também é para o seu Governo. Ouvimos todos os dias o seu desrespeito pelas instituições democráticas da República e até o seu silêncio perante o absurdo agitar de fantasmas separatistas».
«Anos e anos de laxismo, de cedências e de tratamento de excepção geraram, porventura, maus hábitos que custam a mudar. Mas, pela minha parte, não perco tempo com os excessos de linguagem, nem eles me impressionam».
O líder regional não resistiu a ter o tipo de reacção denunciada pelo primeiro-ministro: «O secretário-geral do Partido Socialista revela uma obsessão fixada na Madeira e na minha pessoa, que merece uma atenta e cuidada análise clínica.»
A iniciativa do líder do Governo da República visou ainda colar Marques Mendes à imagem e posturas polémicas de Alberto João Jardim, de forma a fragilizá-lo politicamente:
«Lamento profundamente que o líder do maior partido da oposição, que tanto fala de credibilidade e de mais rigor na despesa pública, se tenha agora disposto a ir à Madeira, num sinal político claro de quem quer dar cobertura a uma atitude de pura resistência ao cumprimento da lei, ainda por cima sem uma palavra que fosse de crítica para com o jogo perigoso de insultos permanentes aos órgãos de soberania».
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«A imagem do deputado Marques Mendes, embevecido, ao lado do dr. Alberto João Jardim, diz tudo quanto há para dizer».
Como se isso não bastasse, Sócrates disse ainda - já na discussão - que Marques Mendes se deslocou à Madeira «para dar cobertura a um acto ilegal do Governo Regional, que contraiu um empréstimo que não podia.» O PM acrescentou que Marques Mendes «perdeu toda a credibilidade para exigir rigor nas contas públicas», quando o exige «em todo o lado», excepto em «áreas onde estão companheiros políticos» eleitos através do PSD.
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