Ainda a respeito do post Selecção e discriminação social nas escolas, a mobilidade social, apesar de 30 anos após o 25 de Abril e a consequente democratização do ensino (embora os números do abandono escolar até ao 9º ano dêm conta que essa democratização é maneatada... e nem se fala na inexistente democratização do sucesso escolar e duma escola inclusiva...) é uma miragem para a maioria.
Na sociedade portuguesa, cada cidadão que nasce tem, à partida, um tecto natural: as condições socio-económicas e culturais determinam o percurso vivencial, profissional e social da maioria dos portugueses. São poucos os que conseguem ter a garra, a persistência e a auto-estima (confiança) para furar esse tecto natural e as amarras (fado) impostas pelo "berço". As oportunidades são escassas para esses poucos, que têm de ter qualidades muito acima da média e debater-se com preconceitos (obstáculos) classistas. Para eles, o capitalismo selvagem é mais benéfico porque selecciona, sobretudo, pela competência e não pela proveniência social.
Depois da Revolução de 1974, face ao surgimento de algumas oportunidades, verificou-se alguma mobilidade social. O actual desinvestimento na Educação e a desvalorização da escola vai dificultar que mais jovens possam furar o seu tecto natural. Os "feios, porcos e maus" terão menos hipóteses já que a escola torna-se menos inclusiva, mais conservadora e mais selectiva (socialmente). Quem nasce com vantagens socio-económicas e culturais sabe tirar melhor partido da escola pública. E quando esta se degrada, há as escolas privadas, para assegurar o tecto natural para os outros, a fim de que as oportunidades, os melhores cursos superiores, os melhores empregos, o prestígio social e o melhor retorno financeiro fiquem para os mesmos de sempre.
A Madeira, com grande desigualdade na distribuição de rendimentos e divisão social, não foge a este cenário. O berço conta muito nestas paragens. Ser "filho de" (e "do partido x") conta mais do que a competência e a qualidade. Há meia dúzia de famílias que controlam o mercado de influências e oportunidades. Há muito lodo. Há um darwinismo social. Só o capitalismo selvagem ajudará a dissipá-lo e a anular alguns dos actuais tampões à mobilidade social dos madeirenses. Mais abismo para haver menos lodo.
Sem comentários:
Enviar um comentário