Quando se discute o aborto, os mesmos da direita que chamam de utópicos e românticos à malta da esquerda, caem na mesmo romantismo e idealismo ao invocarem como solução para o problema a actuação sobre os problemas pessoais e sociais, que estão a causa do aborto. Como se fosse possível, num país real, eliminar todos os factores (condições socio-económicas, culturais ou pessoais) que conduzem a mulher à decisão de interromper a gravidez.
Por outro lado, quando se discute a insegurança, a esquerda realista torna-se a direita romântica do tema do aborto. Avessa à repressão, ao autoritarismo e ao securitismo, a esquerda invoca a actuação sobre as causas do problema (condições socio-económicas, culturais ou pessoais) , que conduzem as pessoas à prática do crime e da violência. Toda a gente feliz e de barriga cheia conduziria à paz e à segurança. A direita, por seu lado, nesta questão, tem um ataque de realismo (que não tem na questão do aborto) e quer ver os bastões a bater nos sintomas, na insegurança que se coloca no imediato, de forma premente, aos cidadãos.
Devemos actuar nas causas, mas enquanto não se vive no mundo ideal (ou, pelo menos, melhor), é preciso resolver os sintomas, isto é, os problemas prementes, que se colocam no momento presente às mulheres, como a sua criminalização e humilhação pública. Seja na questão do aborto (como defende a esquerda) seja na questão da segurança (como defende a direita).
Não há combate eficaz ao problema do aborto ou da segurança, os exemplos aqui dados, sem actuação simultânea sobre os sintomas (a juzante) e sobre as causas (a montante).
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