A propósito de um comentário no post «Muita dificuldade em conviver», aproveito para reiterar e aprofundar o que já tinha sido dito há alguns meses em Dia sem Diário é dia sem "oposição": «no normal cumprimento da sua missão e direito de informar, acautelando o interesse público acima de tudo, faz mais "oposição" que os partidos da oposição, faz mais "sindicalismo" que os sindicatos, faz mais "defesa ambiental" que as associações do ambiente e por aí adiante.»
Por várias razões. Nem todas por culpa exclusiva de partidos, sindicatos ou associações, para citar as instituições referidas, as quais têm os seus méritos - quando se pensa, por exemplo, em sindicalismo, os madeirenses têm, na memória, a acção marcante do Sindicato das Bordadeiras, pelo avultado impacto público e conquistas sociais que materializou.
Não significa que o Diário de Notícias da Madeira seja perfeito. Não é isso que está, sobretudo, em causa. «Releve-se o essencial: o peso e influência do normal acto de informar, dar notícias e de exprimir-se em liberdade é enorme. Ao ponto de conferir ao Diário a dimensão de principal "oposição". Ao ponto do exemplar do Diário ter sido retirado das instituições públicas, por decisão governamental. Esta realidade permite tirar umas quantas conclusões sobre a nossa sociedade que não consegue acompanhar o Diário...»
Nada altera este quadro por mais que se apontem falhas ou "pecados" ao Diário. Aliás, ainda lhe confere mais mérito: se até com erros e falhas consegue ter o peso que tem na nossa democracia, imagine-se se fosse perfeito... Todos os aspectos positivos do serviço público que o matutino presta à Região torna quase irrelevante discutir eventuais "pecados" na praça pública (o jornal terá os seus mecanismos internos de regulação da qualidade e da sua linha editorial), por poder cair-se num "pecado" capital: tornar o Diário um alvo, ele que é um "sobrevivente" (principal "oposição") em 30 anos de sucessivas maiorias absolutas mono-partidárias, numa sociedade como a madeirense, em que tarda uma revolução cultural, de mentalidades e de cidadania.
O Diário será um reflexo da nossa própria sociedade e realidade insular, tanto para o bem como para o mal. Antes de atirar pedras ao Diário, os madeirenses têm de colocar a mão na sua consciência enquanto cidadãos. Saber o que podem fazer pela Madeira e não ficar à espera (no seu "cantinho do céu") de salvadores que resolvam todos os problemas. «Numa sociedade onde poucas vozes dissonantes se fazem ouvir ou onde as pessoas se emudecem por recear discordar (e justificam-no por esta ou aquela razão, por esta ou aquela pessoa), procura-se projectar em terceiros esse desejo, essa libertação, para resolver e satisfazer uma necessidade ou défice cidadão.» Daí a «procura de cordeiros que se imolem para os demais se libertarem da suas agruras e mágoas».
A última reacção da presidência do Governo Regional abordada no post Muita dificuldade em conviver prova, uma vez mais, que o ataque político principal, mais veemente e continuado é sobre o Diário, mais do que sobre a oposição, sindicatos ou associações, os quais o líder regional decide, muitas vezes, simplesmente ignorar. Mas não se pode ignorar o Diário. Porque o presidente do Governo conhece a realidade da Madeira e sabe o peso social e cívico de um órgão de comunicação social (prestigiado) no seu, insista-se, «normal acto de informar, dar notícias e de exprimir-se em liberdade». O Diário cumpre o seu papel.
A actual campanha para a eleição dos 7 Mamarrachos da Madeira Nova é outro exemplo: a brincar, faz mais pela massa crítica dos madeirenses do que tanta outra coisa. Incomoda mais o poder - não tenho, note-se, qualquer satisfação ou alegria em o dizer - do que toda a oposição, sindicatos e associações.
O DN é um dissimulado orgão do regime. Eles sabem até onde podem ir. Se é verdade que denunciam determinadas situações, não é menos verdade que omitem e encondem outras.
ResponderEliminarExistem fortes interesses economicos por detrás...
Verifiquem nas alturas das eleições,..., não são nada imparciais e neutros.
Lamento, mas discordo em quase toda as frentes. Nas penúltimas eleições autárquicas (se não me engano no período) um Diário de Notícias da Madeira publicava semanalmente uns suplementos sobre os concelhos que eram um autêntico escândalo democrático, face ao período que então se vivia. Aquilo era pura propaganda o autarca em exercício e remetia os problemas e a oposição para quase roda-pés. Desconheço se os autarcas pagaram pelos suplementos, mas se isso aconteceu, o escândalo foi (é) ainda maior.
ResponderEliminarNas últimas autárquicas, o tratamento dado aos candidatos da oposição pelo concelho do Funchal foi uma ignomínia (bastava olhar para as fotografias destes candidatos...). A cobertura do Diário de Notícias foi completamente favorável ao actual presidente da Câmara do Funchal.
Mais recentemente, todo o tratamento sobre a nova leia das finanças regionais foi simplesmente a reprodução do pensamento do governo regional e respectivo partido. Até a comparação absurda com a dívida de Angola fez manchete. Foi uma abordagem de provinciana e tolamente esvaziada das verdadeiras questões que se levantam com a nova lei. Por exemplo, não se admite que um jornalista escreva, em discurso directo, que com a nova lei “está em causa a solidariedade” do país para com a Madeira. Isto dá vómitos.
Quanto aos piores mamarrachos, veremos se incluem algum edifício do grupo económico proprietário do Diário de Notícias.
Acredite no que digo. E já reparou como o Garajau, com tão poucos recursos, tem ultrapassado o Diário de Notícias em revelações cruciais sobre a realidade madeirense? Não acha sintomático?
Podem ser sempre apontadas insuficiências, erros e discordâncias quanto a opções editoriais de um jornal mas, apesar disso - e sem retirar os méritos do semanário Tribuna ou do acima mencionado satírico Garajau (que, note-se, tem uma natureza especial e ocupa um nicho muito específico)-, acabamos por reconhecer o referido grande impacto (poder) do Diário, na sociedade madeirense, resultante do seu normal acto de informar (trazer ao conhecimento público assuntos que dizem respeito a todos). É esse acto livre de informar que tanto incomoda, no quadro (ambiente) social e político regional, sobretudo quando não se querem publicados certos temas/factos.
ResponderEliminarFaustina, estou totalmente de acordo consigo. Quando referi nada imparcial e neutro era esses aspectos (que referiu) que eu implicitamente denunciei.
ResponderEliminar