«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, março 10, 2007

Ideologias

Khamosh Pani (Águas Silenciosas*) faz-nos chegar à conclusão que as ideologias, bem usadas ou mal usadas, são sempre intolerantes, mesmo que de forma subtil ou a baixa intensidade.

As ideologias exigem todas adesão, incondicional de preferência, para todo o sempre. Todas tentam a sobrevivência, a expansão, o arrebanhamento, a conquista, o domínio, de uma forma mais ou menos subtil, de uma forma mais ou menos violenta (intolerante). Com um fim: o poder.

Convencidos da posse da verdade (para nem falar nos desejos mesquinhos que dominam a natureza humana), os titulares da ideologia convencem-se da bondade, nobreza e elevação das suas acções e estratégias, ao ponto de os fins justificarem os meios. Julgam-se bafejados por uma qualquer divindade e nada os trava.

Como as realidades demonstram, quem não se deixa arrebanhar é para eliminar. Não há espaço para a neutralidade, para a independência, para a não adesão à ideologia, sobretudo a dominante. Quem não se declara a favor é contra. Ou é amigo ou é inimigo. Não é tolerado discordar da ideologia ou dos actos da ideologia.

Mais do que isso, é altamente intolerado não ter nenhuma ideologia pela razão de isso impedir declarar (catalogar) o outro como amigo ou inimigo. Não professar nenhuma ideologia, ter os seus princípios de vida, de convivência humana e pensar pela sua própria cabeça, é a maior afronta às ideologias. As ideologias, bem usadas ou mal usadas, são sempre prepotentes e intolerantes.

Bonita imagem do filme, em território paquistanês.

Por isso, como documenta o filme Khamosh Pani (exibido no Centro das Artes da Calheta) é preciso arrebanhar a juventude, em idade impressionável e voluntarista, para a ideologia. O baptismo tem de ser feito em tenra idade. Daí as mocidades e juventudes para isto e aquilo, disto e daquilo. É preciso acicatar, programar, dominar. É preciso pontas de lança, cães de guarda, futuros cabecilhas da ideologia.

*Khamosh Pani (Águas Silenciosas), estreado em 2003, é um filme paquistanês realizado por Sabiha Sumar e co-produzido com a Alemanha e a França, que tem como pano de fundo aos dramas individuais as convulsões políticas do Paquistão, em 1979. Na sequência do controlo do país pelo general Zia-ul-Haq, é atiçado o nacionalismo islâmico e grupos de fundamentalistas vão impondo, no quotidiano, regras e valores cada vez menos tolerantes, ilustrando as tensões existentes, no Paquistão contemporâneo, entre as comunidades muçulmana e sikh.

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