O funcionalismo público está infestado de camadas de comissários políticos e bufos controleiros, herança socio-cultural da ditadura, com um ar de naturalidade e até de legitimidade "democrática"...
No contexto do "à vontade" (quero, posso e mando) das maiorias absolutas, em que a voz do dono é mais presente, vem tudo ao de cima e a liberdade de expressão (não confundamos com difamação) petrifica-se na forma de disciplina democrática...
Isto a propósito do caso do professor afastado da DREN (Direcção Regional de Educação do Norte), por ter feito humor com o diploma do PM, e da respectiva directora, ex-sindicalista, mais papista que o papa, percebe-se agora porquê.
E ainda se gabam que sabem e vêem tudo, que têm informadores em todo o lado, para condicionar a liberdade de movimentos e incutir o medo à volta. Ao menos José Sócrates já veio a público «garantir aos portugueses que nem o Governo, nem alguma instituição deste país, deixará que alguém seja sancionado por uso do direito à liberdade de expressão».
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Texto de Miguel Carvalho, publicado na VISÃO (24 Maio 2007):
ResponderEliminar"DRENe-se!
Portugal tem uma relação íntima com os bufos. Ou os bufos com Portugal, vá.
A PIDE não era apenas uma polícia política que chafurdava, perseguia, prendia e mandava matar. A PIDE era, sobretudo, o depósito da recolha pormenorizada das indiscrições e desvios, públicos e privados, que cidadãos anónimos, diligentes e respeitáveis, recolhiam acerca de vizinhos, amigos e conhecidos nas horas do seu vagar.
Os agentes da PIDE, encartados, só podiam ser do piorio - como foram - porque havia carradas de bufos à disposição. Na repartição, no gabinete, nas redondezas, na família e até no confessionário. Com um exército voluntário de verdugos, até eu montava uma polícia política com uma perna às costas. Em democracia e sem se dar por isso.
Uma vez, tentei chegar à fala com um «pide», conhecê-lo por dentro. Não digo «ex-pide», claro. Pode ser-se ex-marido, mas nunca ex-facínora. Trabalhava ele numa junta de freguesia do Norte do País, a secretário. Sem se notar. Como sempre. Pedi-lhe uma entrevista sobre os «velhos tempos», mas ele só queria falar dos novos. E mandou-me pregar para outra freguesia, convertido que estava à democracia de paróquia.
De há uns tempos para cá que venho alertando aqui mesmo para a proliferação dos «pides» de gabinete e de corredor que por aí andam, esses sim, verdadeiramente perigosos e activos, especialistas em ar rarefeito. À beira deles, o PNR mete tanto medo como um gambozino.
Em democracia ou na falta dela, os bufos estão sempre à espreita de um passo em falso do colega do lado. Uns são de antigamente, outros aprenderam andando. Ah! E imitam-se uns aos outros. Um bufo de sucesso tem sempre um regimento por conta de bufos juniores, prontos a aprender com o melhor.
De uma maneira ou de outra, andam aí, empenhados no seu dever, apenas um tanto desorganizados. Os bufos não têm Ordem, nem sindicato. Ainda. Não são um lóbi, não têm sede, nem estatutos. O que dificulta, pelo menos, a construção de uma base de dados sobre os maus comportamentos a vigiar. Mas ao menos o disfarce é garantido.
Não é estranho, claro, que no caso do professor Charrua apanhado a contar uma suposta anedota insultuosa sobre o Primeiro-Ministro se tenha falado de tudo menos do bufo ou dos bufos de plantão. Já se defendeu a demissão da directora regional e saiu-se em defesa do antigo deputado do PSD. Mas os bufos, impávidos e serenos, passam pelos pingos de chuva sem se molhar.
Eficientes e discretos, como sempre.
E não se pode DRENá-los?
Esta história do "professor" Charrua parece-me suspeita. Fiquei com a ideia de que ele não é professor mas um técnico superior do departamento de pessoal...este facto não é importante mas parece-me que haveria uma má relação laboral que está a ser camuflada com esta história da anedota.
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