«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, junho 25, 2007

Comentários anónimos e ofensivos na blogosfera madeirense 2

O assunto não é novo. O Sancho Gomes já tinha reflectido sobre o tema e, na altura, deixámos um comentário, que o Pensa Madeira recordou recentemente.

Como o Conspiração às Sete voltou ao assunto do anonimato blogosférico face a novas investidas anónimas e ofensivas, nomeadamente no Esquerda Revolucionária, aproveitamos a oportunidade para insistir que a tese do medo e da maledicência encaixam.

Mesmo que o alvo das ofensas anónimas não tenha determinado tipo de poder (político, económico ou outro) para retaliar e vingar-se dos autores das agressões, há o medo de retaliação na mesma, a outro nível.

O medo de retaliação pode dever-se ao receio de bater com os costados em tribunal por difamação. É uma preocupação muito prática. Pode não dar em nada, mas causa maçadas e embaraços na praça pública.

Pensar que o anonimato se deve apenas ao medo dos que têm certos poderes, tem subjacente a ideia de que só os poderosos podem retaliar contra a difamação e ofensa públicas. Quem não é poderoso também tem direito a defender a sua honra e tem direito à justiça. O agressor anónimo não tem medo apenas dos poderosos. A democracia estaria muito mal de saúde se assim fosse. Se a justiça fosse só para os poderosos.

Medos há muitos. Em última instância, nem que seja de umas chapadas no meio da rua ou de um ajuste de contas aí numa esquina mais escusa. Quem oprime, ofende e esmaga o outro tem sempre receio de um dia qualquer o oprimido explodir e revoltar-se.

A propósito, no Vinte e Zinco de Mia Couto, numa citação/mote inicial do Voodoo in Haiti de Alfred Metraux (1959), diz-se o seguinte: «O Homem nunca é cruel e injusto com impunidade: a ansiedade que cresce naqueles que abusam do poder frequentemente toma a forma de terrores imaginários e obsessões dementes. Nas plantações de cana-de-açúcar, o senhor maltratava o escravo, mas receava o ódio deste. [...] Quanto maior era a subjugação dos negros, mais eles inspiravam medo.»

Ora, o ataque anónimo serve para diminuir a ansiedade de quem faz uso (abuso) do "poder" do anonimato para agredir (escravizar) e colocar carga sobre o espírito dos outros. Maltratam sob o anonimato mas receiam o ódio, a cólera do outro. Podemos chamar covardia. E não dizemos que receiam a justiça divina porque é suposto que a respectiva entidade seja omnipresente e omnisciente, isto é, o anonimato não lhes serviria de salvação...

Além disso, há o medo de que a exposição e subscrição das ofensas possa vir a ser alvo de julgamento social. Medo de ser censurado por actos menos dignos, passar vergonha pública numa terra em que todos se conhecem e ser apontado na rua. O madeirense é muito sensível ao que os outros pensam e falam dele. Têm medo de provar do mesmo veneno, ser alvo da mesma maledicência e agressão pessoal, de o seu nome ser arrastado na lama. Porque há um status e uma reputação social a defender. Porque sabem quanto dói. Daí o anonimato ser a solução para atacar na sombra e pelas costas. Covardia, claro que sim. É uma face possível do medo.

Apesar de tudo, o anonimato na blogosfera não é tão anónimo quanto se pensa. Sabe-se que, nestas modernas tecnologias da comunicação, fica rasto em todo o lado. A omnisciência já não é exclusivo das divindades. O IP denuncia a origem e o disco rígido do computador guarda tudo, mesmo o que se apaga. Haja polícia disponível para investigar.

Picture copyright: "Sebastian nailed" por Tony de Carlo (www.tonydecarlo.com)

1 comentário:

  1. http://pensamadeira.blogspot.com

    Agora com esta de o G. Regional ambicionar ter a PJ sob a sua dependência aumenta as probabilidades de o anonimato estar menos garantido. No passado a PJ fez trabalhos particulares para dirigentes desportivos pelo certamente os faz e fará para dirigentes políticos!

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