A escola pública é um bem inestimável, não tenho dúvidas. Todavia, é preciso cuidar dela para que não se degrade ainda mais. Para que professores e alunos deixem de querer fugir dela a sete pés...
Quando se fala do privado, mais conotado com a Direita, a Esquerda acusa-o de fazer selecção social. Porque selecciona os alunos com base no sua proveniência socio-económica e cultural, que expulsa os alunos indisciplinados em direcção à escola pública, de serem escolas elitistas, entre outros aspectos.
No que toca à selectividade social, será que o público pode dar lições ao ensino privado? Na minha perspectiva, e do conhecimento que tenho da escola pública, posso dizer com segurança que a selectividade social acontece também no ensino público. Mais grave ainda quando é suposto não acontecer e é vendida a ideia de que não tem lugar. É gato por lebre.
O que acontece é que no público a selectividade social é camuflada. Estão lá turmas com maior número de alunos da classe média. Estão lá as turmas de currículos alternativos (nunca dei conta que um filho de médico, professor, enfermeiro ou quadro superior fosse lançado numa dessas turmas de filhos do insucesso escolar, no ensino básico). Estão lá a falta de condições de trabalho (indisciplina obstaculizante do bom decorrer do processo de ensino-aprendizagem e a atitude de pouco empenho perante o trabalho intelectual), que acabam por prejudicar o trabalho de professores e as aprendizagens e competências dos alunos.
Aliás, a falta dessas condições de trabalho, mais do que as condições de partida dos alunos, são, a meu ver, causa ainda maior e mais grave de selectividade social e de discriminação. Porque se falha em dar aos alunos as condições para poderem desenvolver aprendizagens significativas, de qualidade, de elevado nível.
A escola pública ao permitir (pactuar, tolerar, ignorar) a falta de condições de trabalho para alunos e docentes está a conduzir aqueles para o insucesso escolar (e até abandono) e estes para a permamente insatisfação profissional. Essa é a maior e mais grave discriminação e selectividade social que a escola pública faz. Ao não dar aos alunos as ferramentas para a vida. Cria inadaptados. Cria analfabetos funcionais. Gera marginalização social.
Cuidar da escola pública implica dar-lhe qualidade, implica obter resultados (aprendizagens), implica disciplina e trabalho para alunos, implica professores com elevado profissionalismo, implica uma organização escolar e uma comunidade educativa que faça a sua parte fora do espaço da sala de aula e não abandone lá os alunos e professores à sua sorte. E resultados inclui também exames, apesar de ser um instrumento perverso e parcial. Contudo, se os alunos têm de facto competências não há razão para receios: deixam de ter conhecimentos e competências naquilo que no exame escrito permite fazer prova?
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