«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, outubro 19, 2007

Flop

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O desenvolvimento da sociedade madeirense, nos últimos 30 anos, é um flop monumental. Resume-se a um bem-estar económico, exterior.

No essencial, ao nível socio-cultural, está igual e, nalguns aspectos, ainda pior. Pior quando o novo-riquismo ou a simples melhoria económica cria mais arrogância e desprezo face ao saber, ao conhecimento, à cultura.

Por que razão a Madeira tem os resultados escolares que tem, que nos deixa no fim da lista ao nível do país? Só se alterou o hardware. O software é basicamente o mesmo. Daí o atraso.

Há poucos estímulos para a disciplina, treino, rigor e amadurecimento do raciocínio; há uma desvalorização do saber, da escola e da actividade intelectual; verifica-se uma desigualdade de oportunidades, o nivelamento por baixo e o não privilegiar nem reconhecer da competência dos melhores; mantém-se o domínio do tráfico de influências, em lugar do mérito no acesso ao emprego e à mobilidade social, que incentiva uma cultura de pouco empenho (trabalho) e de laxismo.

Ainda por cima o bem-estar material que acima mencionámos não chegou a todos. As bolsas de probreza e as chagas sociais como o alcoolismo - bem como o progresso para as outras toxicodependências - teimam em manter-se.

E nada garante que essa felicidade económica seja sustentável. Os sinais não são os mais animadores.

2 comentários:

  1. Quanto ao alcoolismo... Todas as zonas do país sofem... e aqui na Irlanda os problemas são bem maiores... Acredite em mim...

    Quanto ao nível de "inteligência"... Diga-me uma coisa quando é que os professores são competentes? Quando há professores competentes os alunos tem sempre boas notas... Porque é que vem professores do continente dar aulas? E passo muito tempo de baixa e faltam aulas... e etc...

    Um exame revela se o aluno é inteligente ou burro... Isso parece querer classificar os alunos madeirenses como os americanos faziam com os imigrantes!

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  2. Viva.

    Não se falou, em nenhum momento, de "nível de inteligência" como refere, nem directa nem indirectamente. São ilações totalmente alheias ao que ficou expresso por mim. Não tem nada a ver.

    Os madeirenses não são mais nem menos inteligentes do que as pessoas do resto do país ou do mundo. Ninguém tem dúvidas disso.

    O que eu argumento é que os resultados escolares têm muito a ver com o contexto socio-cultural, que potencia ou não um determinado desenvolvimento das pessoas, nomeadamente nas qualificações.

    Como se compreenderia que, noutras condições laborais, no estrangeiro, os madeirenses obtivessem sucesso e trabalhassem bem? Não são piores do que os outros. Existem, sim, outras condições... outro contexto... outras oportunidades... nem tudo funciona pela cunha... entre outras coisas.

    A Irlanda ter problemas de alcoolismo como nós (ou pior) não significa que desvalorizem a escola e o trabalho intelectual como nós, nem sofram do atraso cultural que nós sofremos. Nem significa que o alcoolismo é bom. (Não vou usar como referência a realidade irlandesa que não conheço bem. Mas parece que apostaram mais nas qualificações e no conhecimento do que no betão...)

    E do pensar que se estava a colocar em causa a inteligência das pessoas, a pôr em causa, como fez, a competência dos professores foi um passo. Ora, se professor competente fosse igual a aluno competente, o problema do insucesso estaria resolvido, porque a qualidade dos professores é algo controlável. Se o sistema não o faz é porque não quer.

    É ingénuo pensar que o professor e a pedagogia podem resolver, num passe de magia, todas as condicionantes socio-culturais, nomeadamente a atitude errada perante o trabalho intelectual e a escola, incluindo o pouco empenho e a indisciplina. Seria bom haver milagres. Seria bom que os resultados escolares dependenssem apenas do professor (sem o aluno ter de trabalhar e esforçar-se) porque aí o professor controlava e garantia o sucesso. Estava tudo dependente de si. Seria bom pensar que a atitude dos alunos nada tem a ver com a família nem com o contexto socio-cultural mais abrangente.

    Um exame não revela se as pessoas são inteligentes ou burras, como afirma. Revela apenas, naquilo que um teste escrito é capaz de revelar, se há um dado nível de conhecimento inculcado. Não é isso que está em causa e em discussão aqui.

    Essas condições de aferição dos conhecimentos (certa ou errada) são iguais para todos os alunos do país. Não que sejam uns mais inteligentes do que outros, mas porque se metem no meio outras variáveis, entre elas o factor socio-cultural, de que falo no post.

    A pouca valorização do saber e do trabalho intelectual, para o qual é preciso empenho e disciplina, faz parte dos aspectos endémicos apontados por mim. Ou a aprendizagem não tem nada a ver com o trabalho de quem aprende? Quem aprende é neutro e passivo? Não conta no processo de aprendizagem?

    E repito o que disse, com toda a convicção e realismo (e digo-o com tristeza, porque não gosto que seja assim):
    «Há poucos estímulos para a disciplina, treino, rigor e amadurecimento do raciocínio; há uma desvalorização do saber, da escola e da actividade intelectual; verifica-se uma desigualdade de oportunidades, o nivelamento por baixo e o não privilegiar nem reconhecer da competência dos melhores; mantém-se o domínio do tráfico de influências, em lugar do mérito no acesso ao emprego e à mobilidade social, que incentiva uma cultura de pouco empenho (trabalho) e de laxismo.»

    A realidade é dura e choca, mas escondê-la não ajuda a melhorar.

    Saudações.

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