Aos poucos, a sociedade vai dando razão à actual luta dos professores - e irá dar mais razão quando as consequências da actual política educativa se fizerem sentir nas escolas -, abandonando um discurso muito popular, de tão dissiminado que está, que os docentes são uns preguiçosos e privilegiados.
Começam a surgir vozes solidárias perante os radicalismos e atropelos do Ministério da Educação. Veremos se tal situação é evitada cá na Madeira, na futura regulamentação do Estatuto Regional da Carreira Docente.
Há mitos e lugares comuns que se foram criando e que se vão repetindo, para despejar ódio em cima de tudo o que represente alguma autoridade, seja professor, padre, político, polícia... Mina-se a confiança nas instituições de uma sociedade.
É pena que se viva num país e, sobretudo, numa Região em que as alternativas para o emprego qualificado são restritas, para não dizer escassas ou inexistentes, em alguns casos. Se as houvesse, haveria aqui falta de professores como já existe, por exemplo, em Inglaterra. Os melhores procuram alternativas mais compensadoras do ponto de vista da realização profissional e do ponto de vista salarial.
A luta dos professores não é só por questões salariais ou estritamente laborais. Implica o sistema de ensino. Um sistema de avaliação complexo e burocratizado desvia recursos docentes, que deveriam estar ao serviço, nas escolas, do trabalho de aprendizagem das crianças e jovens. Não de malabarismos para justificar a danificação da carreira.
Quando há quem diga que é uma profissão tranquila, estável e privilegiada não sabe o que é a vida nas escolas nos dias que correm, com graves problemas de indisciplina, violência e uma atitude negativa perante o trabalho intelectual por uma boa parte dos alunos. Muitos docentes sobrevivem na profissão. Há um desencanto generalizado que atinge os agentes de ensino, que não contribui para a qualidade do mesmo. Nem realização pessoal se consegue.
É um privilégio para o funcionário público (profissão não liberal) que compra todo o material, desde o informático até livros ou uma simples caneta (é pagar para trabalhar); que tem de ter um espaço em casa para trabalhar e arquivar montanhas de papel, com os gastos que implica, sem esquecer a mistura do trabalho com a vida familiar; um privilégio só poder tirar férias ou viajar em época alta no Verão, com tudo mais caro; é um privilégio o desgaste intelectual e emocional precoce e acentuado; um privilégio andar pela noite dentro e fins-de-semana a corrigir testes e coisas que tal; é um privilégio a instabilidade de ter um horário de trabalho diferente todos os anos; professores contratados (precários) anos a fio sem saber se vão alguma vez ter estabilidade; enfim, só mordomias, não haja dúvida.
Se é tudo tão maravilhoso, só não entendo porque não temos pessoas a querer deixar a sua profissão para serem professores.
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