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Uma das recordações de criança ou adolescente é um teledisco, se não falha a memória, do fado Ai Mouraria, cantado por Amália, com poema de Amadeu do Vale-Frederico Valério. Daquelas coisas apanhadas por acaso na televisão.
Achava deprimente o fado. Melancólico. Triste. Enfim, o retrato de um Portugal característico, autêntico, mas também deprimido, atrasado e pobre, com o qual não me identificava. E, acima de tudo, Ai Mouraria soava deprimente. Isso não conseguia ultrapassar. Era música de velhos.
Anos volvidos, militar no Lumiar, nos idos anos 80, percorri a pé o bairro característico da Mouraria, nos fins-de-semana que pela capital vagueava melancólico e solitário. A Mouraria passou a ser outra coisa, mais realista. Lembrava o fado da Amália, mas fado nem ouvi-lo. Não conseguia aderir. Andava nos Pink Floyd e coisas que tal.
No final dos anos 90, quando comprei uma aparelhagem mais a sério, resolvi comprar o duplo O melhor de Amália - Estranha forma de vida, para impressionar os amantes do estilo, devido ao realismo do som da nova aparelhagem.
Fiquei eu impressionado com alguns fados. Aí eu percebi o segredo da Amália. A VOZ. Para além do facto de eu já ter uma idade com algumas cicatrizes da vida (maturidade, experiência, dissabores ou seja lá o que se queira chamar), que ajuda a sentir as palavras de outra forma.
Temas como Povo que lavas no rio, Gaivota ou Com que voz são incontornáveis. A Gaivota é a faixa ou o fado que utilizo mais para impressionar os melómanos convidados a casa. Sobretudo os que não gostam de fado.
Em Gaivota, Amália tem uma voz madura, com uma amplitude e naturalidade notáveis, carregada de sentimento, de melancolia, de Fado.
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