A pergunta foi lançada e aqui ficam algumas ideias:
1. Há um caldo cultural que, além dos aspectos metalinguísticos, conta com a desvalorização da escola e do trabalho intelectual. Haveria de contrariar-se mais afincada e sistematicamente tal mentalidade face ao conhecimento - com raízes, por exemplo no analfabetismo ou no bem-estar económico propiciado pela construção civil nos últimos anos. Estudo, saber, conhecimento para quê? As mentalidades custam a mudar, mas em 30 anos mais alguma coisa poderia ter sido alterada.
Sabemos que as baixas (ou ausência de) qualificações, insularidade, ruralidade, chagas sociais como o alcoolismo, a violência doméstica ou bolsas de pobreza e analfabetismo (o clássico e o funcional), os poucos estímulos para a disciplina, treino, rigor e amadurecimento do raciocínio, a escassa cultura de trabalho (empenho), a desvalorização do saber, da escola e da actividade intelectual, a desigualdade de oportunidades, o nivelamento por baixo, a não valorização de nada além do horizonte futebol-bar-sobrevivência, o não privilegiar nem reconhecer da competência, o domínio do tráfico de influências em lugar do mérito no acesso ao emprego e à mobilidade social, entre outros, tem o seu peso no insucesso escolar numa sociedade como a madeirense, em particular, ou a sociedade portuguesa, no seu todo.
2. Sabemos que na escola para todos conta com crianças de patamares socio-culturais bem diversos. Deveriam existir mecanismos pedagógicos de forma a não deixar (prevenir) certos alunos escorregarem para o insucesso, com base em acompanhamento tutorial efectivo, mas sem dispensar o empenho e o trabalho dos próprios alunos. Para estas e outras soluções pedagógicas é preciso mais investimento, sobretudo em meios humanos. Uma sociedade aposta nas qualificações consoante o orçamento que lhe destina, não há milagres. A fatia orçamental para a Educação tende a ficar alguns furos abaixo das prioridades anunciadas nos discursos.
Para alguns alunos é mais fácil a vida, sabemos. Mas, se houver trabalho e empenho, as limitações do ponto de partida e os obsctáculos no caminho podem ser vencidos. Não se justifique a inércia e a desistência apenas pelas dificuldades e problemas sociais ou pessoais de cada um.
3. Outros factores para a Madeira alterar, realmente, e não através de manobras estatísticas ao jeito da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, é assegurar duas condições simples para que o proceso de ensino-aprendizagem se desenrole sem a indisciplina generalizada (em voga está o desrespeito pela figura do docente) e com uma melhor atitude perante o trabalho intelectual por parte dos estudantes. O rendimento das aulas e das aprendizagens (das escolas e da Região) seria outro. Mudaria do dia para a noite.
4. Muito já se tem feito na Madeira, mas levará mais algumas décadas. A evolução acontecerá com políticas ou programas mais adequados (incisivos) para superar as especificidades da realidade socio-cultural geradora de insucesso educativo e com a persistência do investimento nas pessoas.
Simultaneamente, há uma revolução socio-cultural e cívica que falta acontecer na Madeira, para que esse contexto socio-cultural se transforme. Somos uma sociedade acanhada, padecendo de vários males endémicos, que aqui já se tem abordado (ver etiqueta no arquivo temático).
A propósito:
Insucesso escolar vem de longe 1
Insucesso escolar vem de longe 2
Insucesso escolar vem de longe 3
Excelente post.
ResponderEliminarGostaria só de comentar uma parte do seu post:
"A fatia orçamental para a Educação tende a ficar alguns furos abaixo das prioridades anunciadas nos discursos."
Verifica-se que na Madeira o que acontece é ligeiramente diferente, se tivermos em conta a construção de pavilhões e melhoramentos nas escolas. Repare-se que agora existe contratos de 3 anos e já não há aquele problema que havia quando eu era estudante de secundário que por vezes era necessário esperar até novembro para ter um professor!
Isto só releva que estavamos anos-luz atrasados em relação ao continente e agora a passos lentos iremos chegar a um ensino de excelencia!
Concordo plenamente e no aspecto das “ políticas e programas adequados ( incisivos)” diria uma pedagogia cirúrgica que trate dos problemas de fundo, já muito debatidos.
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