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A ligação entre as capacidades metalinguísticas das crianças e as habilitações literárias dos pais está confirmada pelo estudo Do Berço às Letras, trabalho de investigação e intervenção da responsabilidade da Direcção Regional de Educação (Divisão de Apoio Psicológico e de Orientação Escolar e Profissional), conforme noticia hoje o Diário.
É um assunto que confirma várias notícias sobre o desempenho escolar dos filhos de emigrantes portugueses, que temos aqui dando conta: Insucesso escolar vem de longe 2. É um caldo cultural que além dos aspectos metalinguísticos conta com a desvalorização da escola e do trabalho intelectual.
«As crianças com mais dificuldades estão habituadas a um vocabulário mais pobre, a não ter tanta motivação para a leitura», diz Armando Correia, líder do referido estudo. As crianças cujos pais têm menos habilitações literárias têm mais propensão para ter dificuldades de aprendizagem. Mas, não só por isso.
E qual a solução? Não deixar que estas crianças, que partem de um diferente patamar socio-cultural, menos favorável à sua integração na cultura escolar, escorreguem para o insucesso. É preciso prevenção desde cedo. São acertados os planos de intervenção precoce defendidos por Armando Correia. «Se existem crianças que têm probabilidades fortíssimas de ter mais dificuldades, então temos de lhes dar os instrumentos para que elas possam ter capacidades iguais às das outras crianças.»
Por outro lado, e entretanto, também é preciso acções mais abrangentes para elevação da escolaridade da população adulta, que condiciona o sucesso das novas gerações. O analfabetismo deveria ter sido erradicado há muito, as pessoas terem estímulos mais fortes para voltar à escola e consumirem mais cultura (leitura, por exemplo, em vez de tanta televisão - concursos e telenovelas).
Todavia, a base cultural e o ponto de partida da criança não devem justificar tudo, nomeadamente a inércia da sua vontade (e família) e o seu papel no trabalho de aprendizagem, sobretudo a partir de determinada idade. Ao longo da vida, o indivíduo (cidadão) tem uma palavra a dizer no ultrapassar das dificuldades socio-culturais de partida.
Por outras palavras, os obstáculos de partida não podem ser usados como álibi para a ausência de esforço ou empenho do jovem no trabalho escolar de aprendizagem. Bem pelo contrário - paninhos quentes e o atirar das culpas todas à sociedade (sempre injusta...) não resolvem nada - a escola deve reforçar esse empenho ao mesmo tempo que proporciona condições e oportunidades para vencer as lacunas com origem no seu meio socio-cultural, nomeadamente no que toca ao seu código linguístico e às suas capacidades metalinguísticas.
A competência linguística é um problema que é mais agudo na Madeira, transversal a quase todas as classes sociais, devido ao isolamento insular, ao meio pouco estimulante de uma melhor expressão linguística e ao acanhamento cívico-comunicacional.
Insucesso escolar vem de longe 2
Insucesso escolar vem de longe 1
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