No passado dia 9 de Julho, Monteiro Diniz, o colaborante e pedagogo Representante da República para a Madeira, viu-se obrigado a dar uma lição de bem elaborar diplomas legais.
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«As lições ao Governo Regional de bem fazer legislação só pecam por tardias», leu-se no Diário de 13.07.2008, na Análise da Semana. E acresentava sobre Monteiro Diniz: «É um pedagogo que tende a colocar a Autonomia nos eixos, o que por si só justifica o reforço de poderes.»
Sob o título «Diniz ensina Governo a fazer diplomas», o Diário de 10.07.2008 refere que a «ideia é evitar a existência de documentos técnica e juridicamente mal elaborados e consequentes devoluções». Isto é, evitar trabalho desnecessário e perda de tempo ao Representante da República, que ainda tem de fazer o papel de professor.
O Executivo madeirense, o presidente do Governo Regional e os secretários regionais, foi em peso ao tapete vermelho do Palácio de São Lourenço, para uma «'aula' de mais de três horas» sobre a elaboração de «diplomas legais.»
Este episódio coloca sempre a questão da qualidade dos quadros neste espaço insular. O contexto socio-cultural da Madeira, modesto e pouco exigente, determina, precocemente, dificuldades no desenvolvimento de competências. Um exemplo é a menor qualidade dos estudantes madeirenses, facto provado através de estudos estatísticos como o ranking de escolas.
Além disso, num espaço em que a ascensão social e o acesso ao emprego depende mais do descarado e 'legitimado' tráfico de influências (popularmente conhecido como 'cunha') do que do mérito profissional, para que é preciso competência e qualidade no desempenho? Para quê esforço? Para quê ser melhor?
O Governo Regional tem os quadros e os juristas que seleccionou.
O presidente do Governo afirmou que o maior partido da oposição «não tem pessoas qualificadas para pegar na Madeira» (Diário, 20.01.2006). Todavia, esta dificuldade não é exclusiva da oposição.
Alberto João Jardim bem conhece a Madeira e a dificuldade de conseguir quadros competentes para a área governativa. Por isso, há secretários e directores regionais que se mantêm desde há décadas no Governo.
Se na Madeira já existe pouca escolha, a cristalização dos mesmos nos cargos diminuem essa escolha/surgimento de quadros. Quebra-se o ciclo natural. Ficar agarrado aos lugares não é ecológico.
Há especialistas em gestão que defendem que as lideranças não devem prolongar-se por mais de dez anos, porque se acomodam, esgotam e impedem a natural renovação de ideias e projectos e impedem o aparecimento de novos talentos.
Há uma cultura de mediania, de pouca exigência e de nivelamento por baixo. O ambiente é pouco competitivo. As oportunidades são escassas, os estímulos são limitados, o espaço para as pessoas crescerem e progredirem é reduzido.
Para mais ajudas, a boa moeda nem sempre expulsa a má moeda. Ainda para mais ajudas, há essa cultura nacional da mediocridade: a cultura do bloqueio e do pequeno interesse pessoal conduzem ao nivelamento por baixo.
Num país corrupto, a ascensão profissional e social resulta, genericamente falando, não da competência mas, sobretudo, de outros factores. O empenho e a competência são encarados como ameaça porque, geralmente, os piores ascendem, mandam e passam a vida a olhar para o lado, a ver quem passa à frente.
Não se quer que os serviços funcionem melhor. Tudo se submete à gestão de poderes, cargos, carreirismo, mordomias, influências. Numa palavra, o interesse imediato, o interesse pessoal.
Como se sabe, na Madeira, os últimos 30 anos, nem sempre ajudaram a promover as pessoas de maior potencial. O domínio do cartão partidário para dar acesso a oportunidades e a carreiras cortou as pernas a muita gente capaz. Deliberadamente.
Perderam-se qualidades, ideias e projectos. Porque interessa, sobretudo, de quem se trata e não as capacidades ou a qualidade das ideias e dos projectos. Os lugares estão marcados.
Foi-se criando um deserto à volta da esfera governativa. Até na oposição. Até nos sindicatos. Até nas associações. São sempre os mesmos. Não cresceu nem se renovou quase nada à volta.
A grande árvore fez sombra em redor. Os pecados apontados à governação PSD foram mimetizados e replicados em outras esferas da sociedade. É a natureza humana no instinto de sobrevivência e da manutenção do poder.
Replicado de:
Quadros para governar a Madeira
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