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«Sejamos realistas, grande parte dos jovens que aderiram a este programa [e-escola] querem o portátil para jogar, acabando por não ajudar propriamente nos estudos.» Escrito por Modstream
Dei com esta frase por acaso e constitui um bom mote para apontar mais uma fragilidade do programa e-escolas. Uma importante e profunda fragilidade.
Não basta dar instrumentos (cana de pesca) às pessoas. É preciso a cultura (ensinar/aprender/saber pescar). Antes disso, é preciso que se queira pescar, que se queira aprender e conhecer. Isto é, que se valorize o conhecimento.
O computador e a Internet são apenas instrumentos, por mais importantes que sejam. A sua utilização e rentabilização depende do uso que lhes damos.
Sei que, para a esmagadora maioria dos jovens, o computador é sinónimo de lazer, para brincar e comunicar com os amigos nos chats e nos hi5.
Desconfio da utilidade que os estudantes irão dar aos computadores do programa e-escolas. Se não gostam ou não querem trabalhar e aprender, o computador será inútil em termos do desenvolvimento intelectual e escolar dos estudantes.
A natureza humana está naturalmente motivada para o prazer. Só a educação social nos cria gosto para trabalhar, para a disciplina, para o rigor, para o sacrifício, para a dificuldade.
O jovem estudante não se motiva espontaneamente para o estudo e o esforço. Acredito mais na educação da vontade do que nessa palavra chamada motivação, que é um grande chavão e apregoada como a solução milagrosa para todos os males.
As pessoas têm de ser espicaçadas. Têm de perder alguma coisa se não trabalham. O comunismo, para sua desgraça, pensou que a Humanidade era naturalmente boa e diligente, que não precisava de fiscalização e controlo. Acreditaram na ilusão de criar um Homem novo, o que se revelou impossível.
Não alimentemos a ilusão que o programa e-escolas vai criar um estudante novo. Não é isso que transforma as pessoas. São valores e princípios (educação e formação pessoal) que mudam a atitude das pessoas perante o conhecimento e o trabalho.
Pensa-se que os instrumentos (tecnológicos, pedagógicos, didácticos e humanos como os professores) substituem o trabalho, o esforço e a disciplina por parte de quem aprende. Totalmente errado.
Os meios podem ajudar ou facilitar, mas o cerne da aprendizagem está na atitude de trabalho e disciplina do aprendente, do estudante. Quando falta esta atitude, não há pedagogia, psicologia ou tecnologia que o faça aprender.
Numa forma atroz de desresponsabilização dos estudantes deste país, insiste-se em colocar o enfoque na história da motivação e em outros factores exteriores à pessoa, como se pudessemos do exterior motivar sempre as pessoas para o trabalho, para a disciplina, para o esforço. Podemos, sim, educar a vontade para.
Daí ser enganador inundar as escolas com meios tecnológicos, dando a entender que isso irá resolver o insucesso escolar, a indisciplina e a falta de trabalho que por lá domina por parte dos estudantes. Aí o governo não actua. Não dá votos.
Prefere-se ir ao acessório, ao visível, ao verniz, que até dá votos, do que ir ao essencial dos problemas da Educação em Portugal.
Nunca mais recuperamos do nosso atraso cultural, ao nível do conhecimento, saber e qualificações (a sério, não a brincar, com diplomas e exames forjados para a estatística).
Recordar:
Programa e-escola, o outro lado
As tecnologias de informação e comunicação por si só não fazem melhores alunos, e muito menos melhores políticas educativas, que é o que a educação nacional necessita. As TIC são, isso sim, uma poderosa ferramenta ao dispor dos que têm empenho, vontade e gosto de aprender e aprofundar conhecimentos. E não me refiro apenas aos alunos, mas também, aos professores, encarregados de educação e sociedade em geral.
ResponderEliminarSerá que com computadores e Internet tudo se resolve?
Acabar-se-á o laxismo vigente e o facilitismo que prolifera no nosso sistema educativo?
Acabarão os programas mal elaborados e desadequados?
Acabarão os problemas disciplinares?
Acabarão os pais negligentes?
Acabarão os professores incapazes?
Acabarão as passagens administrativas?
Haverá mais empenho, rigor, dedicação e responsabilidade?
Não valerá a pena lembrar que já há muito computador nas nossas escolas e nos lares portugueses e que para pouco mais serve do que para jogar, “conversar” com amigos, ver no YouTube os últimos episódios do Gato Fedorento e plagiar alguns textos para usar nos trabalhos escolares.
O investimento nestas ferramentas só será profícuo se acompanhado por políticas educativas que cultivem a exigência, o empenho e o rigor no trabalho de alunos e professores, a responsabilidade dos encarregados de educação e o dever dos governantes e da sociedade para com a educação das novas gerações.
Caso contrário, todo este investimento servirá apenas para que os nossos alunos aprendam que fingir, mentir, copiar e fazer de conta é o suficiente para ir cumprindo etapas na escola e na vida.
Um aplauso para o seu comentário Ilídio. Nem mais.
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