«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, outubro 12, 2008

E a crise financeira apenas começou a atingir a economia real e ainda não atingiu o social


«Nos primeiros seis meses deste ano já faliram mais empresas na Madeira do que durante todo o ano passado.»

(Diário 12.10.2008)

7 comentários:

  1. Nélio,
    mais uma vez. E quantas foram criadas? O Jornalista tem esses dados? Quem cria e destrói empregos não são os políticos, mas a economia. Por essa razão o Sócrates mentiu quando disse que criava não sei quantos empregos lá para o norte. É natural que um tempo de crise venha a significar muitas perdas de empregos. E é natural que a maior distribuição de riqueza no mundo com as novas economias emergentes a ameaçarem a hegemonia ímpar na história dos EUA, venha a criar mais empregos noutros países que tradicionalmente não os tinham e a destruir muitos onde tradicionalmente existiam.

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  2. Caro.

    As políticas dos políticos, as estratégias e modelos de desenvolvimento dos políticos podem ajudar a criar ou a destruir emprego, a fortificar ou a fragilizar a economia.

    E não se procure justificar a crise que a Madeira já vive há algum tempo (pelo menos desde 2006)com a crise financeira internacional, que agora deflagrou e ainda não bateu com força na economia real nem chegou ao nível social.

    Há quem tenha necessitado de ir à Europa para tomar consciência da gravidade de esta nova e profunda crise...

    É claro que agora o Ocidente desenvolvido está a dar-se conta que a sua economia era menos real do que se tinha a ideia. O nível de vida manteve-se à custa do endividamento. Com a economia real transferida para países asiáticos ou do Leste europeu, o desemprego vai crescer.

    Numa ilha perdida no Atlântico, dependente do exterior e vivendo do turismo (serviços), sem indústria e com uma dívida pública calculada em 3 mil milhões de euros, as consequências ainda serão piores.

    Se aos primeiros solvancos - abrandamento do investimento público na construção depois das eleições regionais de 2004 e descréscimo dos fundos europeus e do Estado - a Madeira entra em crise, deixando à mostra as debilidades da sua economia, imagine-se agora o que contecerá com mais uma grave crise internacional a ajudar...

    Ainda há pouco tempo uns sonhadores (ilusores) falavam na «auto-sustentabilidade» e «auto-viabilidade» da economia da Madeira... Isto, sim, é metafísica...

    «Quem foi que acenou com a auto-sustentabilidade económica da Região? Quem é que ainda escreve sobre a possibilidade remota de haver petróleo, ouro ou diamantes nas profundezas do oceano?»
    Ricardo Miguel Oliveira,DN-M 8.10.2006

    Saudações.

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  3. Olá Nélio,
    Não, a auto sustentabilidade da Madeira quanto a auto sustentabilidade do Mónaco ou LIchenstein. Ao contrário, a auto sustentabilidade de Angola seria fabulosa e, com efeito, durante séculos não o tem sido. E isto por uma razão especial: porque a riqueza do Ocidente não vem do endividamento como o Nélio refere. Endividamento de onde? de Marte? A riqueza dos países ocidentais, muitos deles países frios e sem recursos vem da especulação finaceira. Curiosamente essa especulação contemplou ricos e os menos ricos, mas quase todos os que vivem no ocidente. Além disso Portugal vive num espectro de crise há alguns séculos e a situação não tem mudado muito, ainda que tivesse mudado um pouco mais nos últimos 30 anos. O que se passa é que, perante as crises (normais fazendo parte dos ciclos económicos) e com o escudo, desciamos o valor da moeda para tornar os produtos mais baratos e aguentar com as exportações. Ao mesmo tempo as importações ficavam mais caras. Mas em tempos de crise esta era a aspirina usada e o recurso mais comum. Com o euro não somos nós a mandar na moeda, logo não temos essa aspirina e estamos muito mais susceptíveis às oscilações económicas. Soluções? Reforçar a produção. Como? Investindo no conhecimento e mão de obra especializada. O que se passa na Madeira não é muito diferente do que se passa no Algarve ou Beira Interior. São regiões cujos recursos não são a indústria e todos dão ao país o mesmo, muito pouco talvez. Acontece que o turismo é um recurso como outro qualquer. Senão diga-me lá o que é que vale mais: produzir galinhas e vacas em série, engarrafar a coca cola, criar o windows 2020 ou vender turismo? Que o turismo seja um recurso não vejo qualquer erro ou mal. Que seja o único é mais arriscado. O que acontece é que o país nunca deixou que o ofshore da madeira se desenvolvesse como, por exemplo, se desenvolveram os ofshores do Mónaco ou Lichenstein. É arriscado viver de of shores? Eh pá, é tanto como viver da cultura dos cereais e um furacão arrumar com tudo de uma só vez. Ou um tsunami limpar as culturas de arroz. A vida é isto! Tenho publicado um texto no blog do economista Alvaro Santos Pereira, autor dos mitos da economia portuguesa - que tem um capitulo dedicado à Madeira - em que defendo que a Madeira financeiramente, se pudesse desenvolver o of shore, até podia ser um país independente. Só não o é poderia ser por razões culturais. A islandia produz gelo como o congelador do frigorífico que temos em casa e é um país independente. Está a afundar-se, é certo, mas foi um país muito próspero durante as últimas 3 ou 4 décadas. Mas são países pequenos e naturalmente correm maiores riscos.Mas, em conclusão, a razão da crise é a bolha da especulação que podia rebentar - como rebentou -, mas essa bolha é o que nos tem aguentado em crescimento nos últimos 30 anos. A Madeira não me parece um mundo à parte e parece-me completamente errado falar dos problemas da Madeira como se fossem completamente diferentes dos do resto do mundo. Claro que eu compreendo que o interesse do Nélio é derrubar o discurso político dominante, mas, compreenda, eu estou-me nas tintas para o discurso político dominante, como estou para o que há-de dominar. Estou-me nas tintas para o que os políticos discursam pois quando discursão nunca estão a discutir a verdade, mas a versão que cada partido tem da verdade.
    abraço

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  4. Quando falo de endividamento para sustentar um dado nível de vida falo das pessoas, com o generalizado crédito ao consumo.

    Essa facilidade de aceder ao dinheiro acabou, precisamente porque a bolha especulativa (artificial) rebentou e iremos cair na economia real, que ninguém sabe ainda bem como irá portar-se. O artificialismo da especulação cedeu como irá ceder o artificialismo das praias de areia amarela. Basta acabar o dinheiro que ainda permite a importação de exotismos alheios.

    O recurso chamado turismo não tem mal nenhum. O que é preocupante é a dependência de uma única "indústria" ou fonte de riqueza. Se atravessa uma crise, ficamos mais vulneráveis. E não se pode dizer que todas as actividades têm o mesmo nível de risco. No absurdo, poderia-se dizer que o mundo pode acabar amanhã e vai tudo embora. Mas isso é metafísica pura.

    A Madeira faz parte deste mundo, mas tem especificidades próprias. Se tem baixas qualificações não vamos dizer que é igual a ter uma população activa com elevadas qualificações. Dizer que a Madeira não é muito diferente de outras regiões do país não me alegra, porque poderia ser melhor nos resultados escolares, poderia ser melhor no nível de vida das pessoas, ter menos pobreza, menos alcoolismo e toxicodependência, poderiam os funcionários públicos ter recuperado o tempo de serviço congelado pelo actual governo da República, enfim, acabamos por não fazer a diferença pela positiva quando o poderíamos fazer.

    Apesar de tudo, temos metade da população escolar da Região a ter de ser acudida pela Acção Social Educativa; quase oito mil madeirenses e três mil famílias recebem rendimento social de inserção para sobreviverem; cerca de sete mil famílias da Região não têm outro remédio senão viver com um rendimento médio mensal de 145 euros; somos os portugueses mais pobres e os trabalhadores madeirenses têm salário médio inferior em quase 5%; mais de metade da população madeirense está vulnerável à pobreza e 15,1% vive em situação de pobreza persistente; a percentagem de população em risco de pobreza é de 31%, a maior entre todas as regiões no plano nacional; o rendimento líquido anual médio por agregado familiar na Madeira está abaixo da média nacional e dos Açores, entre outros indicadores, que nos diferenciam pela negativa.

    A discussão no plano teórico não pode nivelar a realidade ou cair no exercício extremo de dizer que tudo é igual a tudo o resto. Todos sabemos que podemos morrer a qualquer instante, mas isso não nos paraliza e não nos impede de projectar o futuro e viver.

    Quando é referido por si que a solução é reforçar a produção (a tal economia real...) investindo no conhecimento e na mão de obra especializada, onde está ela e onde está o investimento nas qualificações? Em betão e desporto há muito investimento. Em conhecimento... e nos recursos humanos... A propósito: Se o conhecimento fosse de comer...

    Não sou golpista para querer derrubar discursos ou governações. Quanto muito expor a contradições e insuficiências, num normal acto cívico. Porque, precisamente, cada discurso procura ajeitar a realidade à sua maneira e precisa de contraponto. Faz parte das regras do jogo político.

    Sei que dá mais jeito o "votou, calou."

    Saudações.

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  5. Olá Nélio,
    Não tenho objecções a fazer a este seu comentário. Vou fazer só um reparo: metafísica do dinheiro é precisamente a realidade em que o mundo ocidental tem vivido, A metafísica do dinheiro tem-nos enriquecido a todos, na vida real. Basta que o Nélio tenha comprado uma casa e vendido ganhando algum dinheiro para perceber como enriquece na vida real com a metafísica do dinheiro. A metafíisca não é metafísica por ser de outro planeta, mas precisamente por ser meramente especulativa, o que não implica que não traga resultados. A generalidade das pessoas também vivem numa metafísica religiosa popular e desde sempre viveram assim. São poucos os seres humanos que vivem na realidade. A vida real é isto mesmo: ciclos económicos: quando são bons, as pessoas vão mais à escola, compram computadores e telemóveis, mas isso não dura sempre, obviamente. Somos pobres? Sim temos muitos problemas e somos muito pobres comparando-nos com os ingleses por exemplo, mas extremamente ricos se nos compararmos com os Moçambicanos. O problema é se as condições que se exigem para ter uma vida nesta ilha chega a todos. Parece que não tem chegado, mas é indesejável mas algo inevitável que mais riqueza traga mais gente em busca dela, razão pela qual não subscrevo os discursos mais dramáticos.

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  6. Caro Rolando.

    Ser realista não é igual a ser dramático, a não ser que a realidade seja já por si dura e dramática. Acredito que seja mais fácil ser optimista e até mesmo negar a realidade.

    Discurso realista que não é só dos "maldizentes" ou dos partidos da oposição :) Madeira numa das fases mais dramáticas

    Abraço.

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  7. Pois,
    eu realmente não tenho a visão que a realidade seja dramática, ou pelo menos tão dramática quanto por vezes me parece que os textos do Nélio descrevem. Bem, creio que um pouco de metafísica aqui nos faria alguma falta para tentar responder à questão: a realidade possuialguma objectividade?
    Mas a sua crença de que o optimismo é uma via mais fácil é falsa. A história está cheia de contra exemplos à sua ideia. Estou a lembrar-de de dois que acho fantásticos: Espinosa e Bertrand Russell. Para além do mais quando falamos em racionalidade critica em relação ao mundo ser optimista ou pessimista não constititui qualquer privilégio especial: nem todos os pessimistas são capazes de boas análises críticas e o mesmo aplica-se aos optimistas.

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