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Mário Soares, num artigo intitulado Folhetins da crise (Diário de Notícias de Lisboa 21.10.2008), sublinha o seguinte, batendo outra vez nos offshores:
«Como era possível ser de outro modo, em tempo de globalização desregulada, com os "paraísos fiscais", espalhados pelos lugares mais imprevistos, para que as especulações - e as negociatas - fossem menos conhecidas?»
Além das crises energética, alimentar e ambiental, «a mais grave de todas: crise moral, crise de valores ou melhor: da falta deles, a negação da ética, omitida nos comportamentos, pelo capitalismo especulativo, crise civilizacional, de fim de ciclo, dado o enfraquecimento do Estado, a impunidade da corrupção, a desvalorização do serviço público, numa sociedade individualista, egoísta e consumista, por excelência, em que conta, acima de tudo, o dinheiro - como supremo valor - sem importar como se adquire nem qual a sua origem. Se vem do tráfico ilegal da droga, da prostituição, da compra e venda de armas, incluindo nucleares, do crime organizado ou das especulações feitas através dos offshores, que têm por detrás deles "respeitáveis" senhores que gerem bancos, seguradoras e grandes empresas, auferem vencimentos multimilionários, prémios e indemnizações e são os mais próximos responsáveis - não os únicos - até agora impunes, da grande crise global e complexa com que nos debatemos.»
«Toda a teoria e a prática neoliberais daí decorrentes caíram por terra, desacreditadas, em poucas semanas, pela crise que estamos a viver. É, como diz [o economista Daniel] Cohen, "o fim do mundo especulativo". Os nossos economistas neoliberais deixaram de falar. Quando muito, aconselham prudência, muita cautela. Talvez "caldos de galinha"... Não quiseram - ou não souberam - prever nada. E estão estonteados sem saber como combater a crise que se instala e gera a desconfiança e o pânico...»
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