«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, outubro 25, 2008

Rabaçal em risco XIV [Rabaçal at risk in Madeira Island] opinião

«Quando a UNESCO entregou o galardão de Património da Humanidade à Laurissilva, para além de distinguir uma floresta ancestral e particularmente salvaguardada, 'disse-nos': meus senhores, essa floresta tem um valor incalculável;, a partir de agora, a responsabilidade de a conservar e proteger é vossa.

Apesar disso, aparecem uns iluminados a justificar, para o Rabaçal, um verdadeiro crime ambiental.

- "Valorização de uma área de beleza única"! É, como é única, espeta-se com cabinas de teleférico a subir e a descer (não há forma de as disfarçar nem aos cabos que as suportam, mesmo que as estações sejam metidas em grutas).

- "Criação de emprego"! É mais que sabido que infra-estruturas destas têm um impacto mínimo na criação de emprego. Mas querem rentabilizar? Muito bem: não nos deixem andar por ali à solta e à borla; agora que já há levadas bastante arranjadas e protegidas, criem pequenos e simples apoios ao longo delas, guias qualificados para acompanhamento e cobrem uma pequena taxa de circulação. Ninguém se recusa a pagar sabendo que vai entrar numa zona que é Património da Humanidade, que o dinheiro se destina à conservação do espaço, que quem o acompanha é de confiança e está ali para guiar e explicar. É assim em todo o lado.

- "Criação de um acesso cómodo e rápido para os visitantes"! Esta aberração só pode vir de quem está habituado ao conforto dos carros topo de gama e dos sofás. Não percebe que, para os visitantes, grande parte da beleza é andar a pé a percorrer as levadas e caminhos, sentindo o cheiro da terra, os sons da água e da floresta.

- "Dar a conhecer a floresta Laurissilva e as veredas das levadas das 25 Fontes e do Risco"! Isto é para dizer que uma das estações fica nas 25 Fontes? Colocando em causa todo um património natural de excepção com cabinas que transportam até 240 pessoas/hora??? Mas onde é que aquela zona aguenta uma tal carga de gente? Só se for para estragar completamente o que a Natureza tão magnificamente criou e soube preservar.

Pelo que é dado saber, por ano há cerca de 60 000 visitantes. Pois se as cabinas viajarem cheias, durante 6h/dia, estamos a falar de mais de 40 000 pessoas por mês!!! Quem quer ali meter um teleférico conhece o terreno? Percebe as consequências? Mede a anunciada destruição? A menos que se entre na loucura total. É que, se for o caso, aqui vão mais teleféricos possíveis: Portela/Penha d'Águia, Areeiro/Pico Ruivo, Balcões/Fajã da Nogueira, Encumeada/Serra d'Água, Camacha/Porto Novo…

Eu sempre achei que ainda tínhamos Laurissilva porque ela estava longe, a salvo das atrocidades do homem. Pois aí estão elas a começar a aparecer. Parece que há quem, durante a noite, se entretenha a pensar como é que vai estragar, durante o dia, o que ainda nos resta de excelente.

Isto não é um problema de impacto ambiental. É BOM SENSO. É DEFESA DO PATRIMÓNIO. É QUALIDADE AMBIENTAL.

Vejam se percebem o que foi dito na Conferência Anual do Turismo

Violante Saramago Matos
Diário 23.10.2008

photo copyright

Recorde-se:
Rabaçal at rick in Madeira Island XIII : teleférico soundtrack
Rabaçal at rick in Madeira Island XII : Susana Fontinha

4 comentários:

  1. Caro Nélio,
    Impacto ambiental existe até quando usa o seu carro ou o autocarro. Existe impacto quando come carne industrial, defecta para o esgoto e compra produtos à base de plástico. A Vilante Matos também produz este impacto ambiental. E existe impacto ambiental por algum dia o ser humano ter pisado esta ilha. O que está em causa é se a construção do teleférico causa dano nos interesses morais da 1) natureza 2) outras espécies. Agora que causa impacto ambiental isso é discurso da treta pois toda a gente sabe, ou deveria saber que provoca impacto ambiental, ora essa. E depois o Nélio acha que os meus argumentos é que são metafísicos. A oposição do impacto é daquelas que nunca passa dos jornais. Toda a gente sabe do impcato ambiental. O que não se sabe é do interesse moral em causa. E isso exige uma discussão que ninguém parece disposto a ter porque: 1) dá trabalho 2) exige abandonar algumas das nossas crenças mais pessoais, queridas e psicologicamente confortáveis (incluindo ter de corcordar com as bestas dos governantes)
    abraço

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  2. Desculpe, não sei se o comentário anterior ficou assinado. Rolando Almeida. Obrigado

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  3. Viva.

    Será que os interesses morais da natureza são os interesses do regime e das “espécies” arregimentadas e “avençadas”?

    É claro que defecar ou colocar um carro em marcha causa impacto ambiental. Contudo, uma necessidade fisiológica ou de deslocação via automóvel não pode ser posta ao mesmo nível dum “gadget” supérfluo e caro como o teleférico. Os impactos são de graus muito diferentes. Não se pode colocar tudo ao mesmo nível.

    Tal comparação desnivelada não minimiza ou justifica os impactos que o teleférico causará no Rabaçal. Nem faz do impacto ambiental um «discurso da treta.» E “esqueceu-se” dizer que «a oposição do impacto [ambiental] é daquelas que nunca passa dos jornais» devido à natureza do regime, da filosofia do “quero, posso e mando”, da cultura democrática da terrinha.

    O facto da actividade humana mais rudimentar causar impacto ambiental não tem de nos tornar acríticos, arregimentados e aceitar todo e qualquer impacto ambiental como natural.
    Relativamente ao teleférico, não está em causa uma necessidade fisiológica impreterível nem a sobrevivência de ninguém.

    Estamos a sacrificar os interesses importantes das espécies naturais, para satisfazer interesses menores de alguns defensores do teleférico, como o Rolando: para, em vez de andar pelos seus próprios pés, sobrevoar o Rabaçal sentados em caixas de vidro e contemplar a natureza à distância, inclusive do bar panorâmico, a beber um cocktail.

    E depois dá-se a ideia de que, mesmo sacrificando a paisagem, a flora e os animais, entre outras coisas importantes, tudo permanece em equilíbrio. Por milagre…

    O Rolando poderá então iniciar essa discussão sobre o «dano nos interesses morais da natureza e de outras espécies.» Mas, tente dizer as coisas de forma objectiva e simples: quando se pode dizer “amanhã”, não serve de nada dizer “o dia depois de hoje” ou “o dia antes de depois de amanhã”. Deixemo-nos de transcendências e mistificações. Quem tem argumentos terrenos não precisa de esconder-se por detrás de filosofias baratas para complicar o que é simples.

    Se pertencemos todos a uma comunidade moral e os interesses de uma espécie não são mais importantes do que os das outras espécies, significa que o Ronaldo é coerentemente contra o Radar do Pico do Areeiro, que ameaça a Freira da Madeira, espécie endémica e protegida nesta ilha.

    Abraço :)

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  4. Muitos parabéns por um excelent blog e também por divulgar este atentado ao nosso meio ambiente (leia-se um dos atentados) como este 'escarro' na paisagem como ja o chamam que é este projecto 'doente'.

    Quero dizer também que tenho um ABAIXO-ASSINADO online contra o teleférico que qualquer pessoa que se preze ou estime o lugar onde live pode assinar:

    http://www.petitiononline.com/247132/petition.html

    Muito Obrigado!

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