O tempo escasseia e as partes continuam desencontradas: no dia em que os sindicatos marcam uma greve para 3 de Dezembro, a ministra resolve dar um sinal de abertura para desburocratizar o modelo de avaliação e minimizar alguns efeitos perversos.
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«A ministra da educação admite alterar o modelo de avaliação dos professores para o tornar menos burocrático e para dar mais autonomia às escolas», refere o Público. «No entanto, Maria de Lurdes Rodrigues, garantiu que o actual modelo não será suspenso.»
É claro que, politicamente, o Governo da República "não pode" voltar atrás e suspender o processo de avaliação. Maria de Lurdes Rodrigues, que ouviu hoje as escolas sobre as dificuldades no terreno, aceitou tornar o modelo menos burocrático e resolver os factores de tensão e conflitualidade.
Qualquer modelo de avaliação vai criar conflitos e colocar uns professores contra os outros, porque não há modelo perfeito. Basta pensar no que é feito nas empresas. Há espaço nesses modelos, que tentam quantificar tudo, para injustiças.
O importante é minimizá-las ao máximo e simplificar/agilizar o processo de avaliação do desempenho, de forma a não congestionar a vida das escolas ou desviar/distrair os professores do trabalho com os alunos.
A ministra da Educação fez da reforma educativa um combate, sobretudo contra os professores, procurando virar a opinião pública contra os profissionais. Deveria ter conquistado os agentes que concretizam a reforma no terreno. Ao menos parte deles. Acabou com todos os docentes contra ela.
Hoje foi anunciada a antecipação da greve para 3 de Dezembro, com a ameaça de, em caso de não haver recuo do Governo, avançar para mais greve a partir do dia 15 do mesmo mês, a coincidir com as avaliações dos estudantes.
Não sei que resultado terá esta guerra total. Não percebo por que razão a ministra não mostrou abertura para desburocratizar o modelo de avaliação mais cedo e de forma clara. Poderia tê-lo feito com humildade antes da última mega manifestação. Deixou aumentar a bola de neve.
Os sindicatos, por outro lado, poderiam aproveitar a abertura expressa hoje por Maria de Lurdes Rodrigues e pedir a concretização dessa abertura, por escrito, a ver se é real ou apenas mais uma manobra para colocar a opinião pública contra os professores.
Espero que os professores não estejam a tentar inviabilizar este ou qualquer outro modelo de avaliação. Não quero acreditar nisso, apesar de haver consequências substanciais para a carreira e remunerações. Já se percebeu que nenhum outro modelo será aceite pelo Governo, se não tiver repercussões no vencimento dos docentes, mesmo que favorecesse mais o processo educativo e a vida nas escolas.
A própria ministra referiu que «parece ser unanimemente aceite pelos professores» a existência de um sistema de avaliação dos docentes.
E há que pensar o seguinte, de forma fria, racional e realista: qual é a alternativa à política do PS? A política educativa do PSD ainda mais neoliberal e radical? Basta lembrar o tempo em que Manuela Ferreira Leite foi ministra da Educação, em que houve grande conflitualidade, e as propostas do partido, nomeadamente da anterior direcção de Marques Mendes, que previa até a privatização de escolas.
Os professores estão entre a espada e a parede e ponto final. Mais valeria, se calhar, minimizar os efeitos negativos das propostas de um governo que defende, pelo menos por enquanto, a Escola Pública.
Os professores e os sindicatos podem inviabilizar a possível maioria absoluta de José Sócrates se o braço de ferro continua.
O Presidente da República poderia intervir e fazer a ponte entre as partes. Tem poder político para influenciar e arbitrar.
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