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Num momento em que professores e Ministério da Educação extremaram posições, em que a tentação do ajuste de contas é grande», como diz Matias Alves, o consenso (ou síntese) a partir dos conflitos (ou teses de cada parte) parece cada vez mais difícil de almejar.
Diz José Matias Alves, professor que participou, até há pouco tempo, no Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), órgão criado pelo Ministério da Educação para supervisionar este processo:
«[A] educação portuguesa e os professores não ganham com a intensificação do confronto e a gradação ascendente da crispação e das ofensas mútuas. Sou partidário de uma identificação dos problemas e da construção colectiva de soluções que sirvam os interesses das aprendizagens dos alunos e do desenvolvimento profissional. Por isso tenho de estar de acordo com saídas que passam por atribuir mais autonomia às escolas para a organização do modelo de avaliação».
[T]enho de estar de acordo com a recomendação nº 2* do CCAP – nas suas múltiplas implicações - e que tem sido largamente citada – e que muito lamento que não tenha sido adoptada pelo ministério no tempo próprio. Porque talvez não estivéssemos onde estamos – à beira de um precipício.»
* «As alterações imediatas deveriam passar por permitir a simplicação das fichas de avaliação reduzindo a excessiva atomização das observações e registos, banir o aplicação informática centralizada que obriga ao registo uniformizado e fixa o padrão único na ilusão de que assim todos agem do mesmo modo, flexibilizar os modos de uso e aplicação do normativo em vigor são alterações, a meu ver, fundamentais e que a Recomendação nº 2 do CCAP claramente expressava.» (SOL, Novembro 2008)
Mais leitura: entrevista Diário de Notícias.
Ana Benavente disse ao Diário, ex-secretária de Estado da Educação da governação de António Guterres e crítica das actuais políticas educativas:
«Devido à intransigência, "os responsáveis do Ministério da Educação colocaram-se num beco sem saída". Na opinião ex-secretária de Estado, ao extremar posições, ao não deixar nenhuma porta para o diálogo, a equipa colocou-se a jeito para perder a luta nesta crise. "Até à segunda manifestação achei que sim, que era possível voltar atrás e que se a senhora ministra percebesse a importância daquela manifestação, se ouvisse os argumentos dos professores e percebesse que não é possível ser concretizado no dia-à-dia das escolas".
Apesar "da rigidez, agressividade e contrariedade da ministra", ainda havia uma oportunidade de reconsiderar. No entanto, o momento passou, a situação ficou incontrolável. "O que está a acontecer é mortal para os membros do Governo. Quando começam a ser recebidos com ovos e com tomates quer dizer que perderam o respeito da outra parte. A senhora ministra não quer dialogar, mas os parceiros também não querem dialogar".»
António Vitorino, destacado membro do PS, propôs foi uma comissão de sábios para avaliar a avaliação, no final do ano lectivo, em 2009.
É uma boa ideia, já que seria mais um filtro relativamente às fragilidades e perversidades do modelo de avaliação e mais uma garantia para os docentes. É importante limitar as injustiças deste ou de outro modelo de avaliação, já que aquelas geram sempre conflitualidade, que prejudica o funcionamento das escolas e, no final, os estudantes.
Contudo, a comissão de sábios não resolve o problema do conflito entre professores e Ministério da Educação, no presente e no imediato.
António José Seguro, socialista e presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, no final de uma reunião com cerca de uma dezena de conselhos executivos de escolas do distrito de Coimbra, defendeu que o «primeiro passo para uma solução positiva é ouvir, saber ouvir os professores», apostando no diálogo para que se resolva o impasse a que se chegou nas escolas.
O deputado socialista António José Seguro afirmou em 12 de Novembro, perante uma plateia de militantes, «na secção do PS de Alvalade, em Lisboa, que a "arrogância não pode ser a marca de um Governo de esquerda", noticiou a Rádio Renascença. Seguro, que também é presidente da Comissão Parlamentar de Educação, frisou que "o papel dos professores tem de ser valorizado".
"Para a esquerda, como nós a entendemos, o diálogo não pode ser encarado como um instrumento ou um obstáculo da governação ou para a governação. O diálogo e a discussão fazem parte do nosso código genético. Governar à esquerda não é só fazer sem discutir, é discutir primeiro para depois fazer bem”.
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