«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, dezembro 27, 2008

Elementos sobre o estado da Escola Pública 19: intervir contra a indisciplina

Que mal tem, afinal, apontar uma arma à nuca de uma professora? Quando é que este país tão laxista e permissivo na educação infanto-juvenil tomará consciência que o estado geral de indisciplina que grassa nas escolas prejudica, mais do que se pensa, o desempenho de professores (ensino) e de estudantes (aprendizagem)?
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Diz o editorial do DN de hoje, intitulado É preciso intervir contra a indisciplina nas escolas:

«O caso tem alguns contornos distintos do ocorrido há nove meses na escola Carolina Michaëlis, mas no essencial o que ocorreu na Escola do Cerco é tão gravoso quanto o seu precedente. Percebemos, mais uma vez, que o ambiente nas salas de aula portuguesas atingiu níveis de preocupante agressividade e impunidade. É urgente concertar uma posição entre professores, conselhos executivos, direcções regionais de Educação e Governo para fazer frente à crescente desobediência que lastra pelas escolas nacionais.

Além dos reprováveis actos que o vídeo documenta, a iniciativa de o divulgar através da Internet demonstra que os intervenientes não só se sentiram à vontade para ameaçar a professora em plena sala de aula, como fizeram questão de propagandear o seu lamentável comportamento.

As reacções da professora, da presidente do Conselho Executivo, Ludovina Costa, e da directora regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, voltaram a parecer demasiado brandas para aquilo que um caso como este exige. Desvalorizando que um aluno aponte uma arma, mesmo que de plástico, a uma professora - como fez a docente -, omitindo que isso aconteceu e lamentar apenas a divulgação do caso - como fez Ludovina Costa - e reduzindo o episódio a "uma brincadeira de mau gosto" - como fez Margarida Moreira - corre-se o sério risco de as palavras soarem quase como que a um convite para que situações destas continuem a repetir-se pelas salas de aula.»

Quando é que este país tão laxista e permissivo na educação infantil e juvenil tomará consciência que o estado geral de indisciplina que grassa nas escolas prejudica, mais do que se pensa, o desempenho de professores (ensino) e de estudantes (aprendizagem)?

Esta é razão mais forte para uma greve geral de professores do que o actual modelo de avaliação, com todos os péssimos defeitos que tem.

Venha rápido a avaliação do desempenho dos professores para mais cedo a sociedade perceber que isso não resolve o problema da indisciplina ou do insucesso escolar... Serve para cortar salários...

Sobre este assunto já escrevemos:
Brincamos mesmo
País de brincalhões

1 comentário:

  1. Mmm, acho que, de facto, há um défice de disciplina e autoridade na maioria das nossas escolas, mas, para além das razões que aponta, e com as quais concordo, lamento ter que dizer que uma boa parte da culpa cabe aos órgãos das escolas e aos seus professores (nós todos, globalmente falando), porque se podia fazer mais quanto a isso em cada escola.

    Parece-me que aquele incidente demonstra isso mesmo: uma escola com ideias muito pouco claras do comportamento e da atitude que deve exigir aos seus alunos; uma professora que não conseguiu construir uma relação equilibrada com os seus alunos, confundindo papéis e funções, tolerância com balda, sentido de humor com ausência de limites claros de respeito.

    Os alunos tiveram um comportamento que é muito reprovável, porque é uma brincadeira completamente desajustada e parva. Mas confundir o que se passou com intimidação a sério ou agressividade real também me parece que é estar a pintar as coisas para as pôr a jeito de servirem para outras argumentações.

    Aqueles alunos precisam de uma punição, para já, mas precisam, sobretudo, de aprender a estar na escola; aquela escola precisa de desenvolver uma ideia clara da atitude que quer exigir aos seus alunos, e empenhar-se na concretização desse objectivo; aquela professora precisa de aprender a gerir melhor a aula e a sua relação com os alunos. Diabolizar meia dúzia de adolescentes que embarcaram numa parvoíce que descambou não me parece que mude verdadeiramente alguma coisa.

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