O Ministério da Educação, ao reafirmar a sua irredutibilidade em suspender o actual modelo de avaliação, está a começar mal as tréguas acordadas com os professores...
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«O Ministério [da Educação] não tem condições de vencer este conflito [com os professores] por mais meios que mobilize», disse e com razão José Matias Alves, no Terrear, que tem defendido uma solução consensualizada, ele que é ex-membro do Conselho Científico para a Avaliação de Professores, órgão criado pelo Ministério da Educação para supervisionar o processo da avaliação do desempenho dos docentes.
José Manuel Fernandes escreveu também num editorial do Público (4.12.2008): «para uma negociação correr bem, é muito importante que se permita a ambas as partes salvar a face. O cenário da humilhação completa é até, muitas vezes, aquilo que decuplica a força de quem está entre a espada e a parede.»
Matias Alves diz outra verdade: «As euforias das vitórias que esmagam o adversário raramente dão resultado.» «Convirá não levar excessivamente longe o desejo de salvar uma intocável face. É óbvio que o ME cometeu sucessivos erros. Era honesto admiti-los. Seria desejável evitar a tentação de encostar o outro à parede. De parte a parte. Mantenham o processo. Prescindam do absurdo.»
Isto a propósito das tréguas sensatas, que recebemos com optimismo, acordadas ontem entre o ME e os docentes, por via dos seus representantes sindicais, a única solução para todo o impasse.
Contudo, não se deveria insistir em dissonâncias publicamente (esperar pela reunião e tratar lá dentro das questões, sem alarido exterior):
Enquanto a Plataforma de sindicatos refere que está marcada para o próximo dia 15 uma reunião negocial com o Ministério, "onde tudo estará em cima da mesa [como é natural e preferível], pela primeira vez" (suspensão do actual modelo de avaliação, negociação de um novo modelo, fim da divisão artificial da carreira, entre outras matérias fundamentais), o ME vem, contraproducentemente, reafirmar e reiterar que a tutela continua com a mesma posição de sempre, ou seja, a manutenção do actual modelo, ao dizer que a negociação se destina apenas ao "acompanhamento da aplicação do modelo de avaliação e para pensarmos a sua revisão para o futuro".
Não haver suspensão do processo de avaliação é unânime. Os docentes lutam, sim, pela suspensão deste modelo de avaliação, o que é diferente. Um modelo que, na prática, a realidade nas escolas suspendeu... E o ME tem de assumir isso.
Aí estou completamentre de acordo com a posição de Matias Alves: «O ME que mantenha o "processo de avaliação" e que abdique de um "modelo" já por todos condenado (incluindo o próprio ME). Será um absurdo incompreensível dizer que este ano se tem de manter o "modelo". Porque o modelo legislado já não existe. E a plataforma que aposte no que é essencial: na dignificação da função docente, na superação das injustiças, na visão cega das quotas, na correcção de uma "divisão" artificial da classe, na defesa de um ensino de mais qualidade.»
Update (16h:30m): reacção à posição de Jorge Pedreira
"O secretário de Estado tentou marcar uma posição de força com as declarações que faz. Os sindicatos não precisam, porque está expressa", referiu Mário Nogueira, em alusão à posição de Jorge Pedreira na sexta-feira e às greves que mobilizaram "94 % dos professores".
"Se o Ministério da Educação quiser guerra, vai ter guerra, e a guerra dos professores é forte. O que exigimos é seriedade e boa-fé", declarou Mário Nogueira, reafirmando que a reunião do dia 15 é "de agenda aberta".
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