«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Professores de luto e em luta 151: cara de pau

Se a intransigência é de quem governa, é um acto de coragem. Se é da parte dos governados, é uma vileza, uma ignomínia, uma infâmia. Mais do que coragem, a ministra da Educação tem uma avantajada cara de pau.

«Hoje o desacordo foi absoluto e evidente, porque o ministério não aceitou um único dos itens propostos pelos sindicatos» da proposta de solução transitória de avaliação para o ano em curso, para evitar o vazio enquanto não entra um novo modelo de avaliação em 2009-10, afirmou Mário Nogueira. «Saímos desta reunião exactamente como entrámos, com o ministério inflexível e sem abertura».

E depois querem chamar a isto negociação... ou atitude séria.

José Sócrates, para não perder a face, está apostado na intransigência, depois de dois simplex ao actual modelo de avaliação que, além de não resolverem os problemas (apenas ilude a tal opinião pública), simplesmente ajudaram a provar a sua inexequibilidade. E foi preciso muita luta para acontecerem esses simplex, é bom não esquecer. A ministra mostrara, então, a mesma intransigência que agora volta a demonstrar face à necessidade de suspender o modelo e preparar um outro...

O ME e o Governo continuam a passar para a opinião pública que os professores não querem ser avaliados, o que vai acicatando mais a revolta na classe profissional. Além disso, Maria de Lurdes Rodrigues provoca mais os professores ao gracejar (caricaturar para inferiorizar e ridicularizar) com a proposta de avaliação transitória dos sindicatos ao dizer que «cabe numa folha A4», como se fosse uma proposta de modelo de avaliação, algo em definitivo ou se a qualidade de uma proposta se medisse pelo número de palavras.

Pensa assim quem pariu uma montanha de burocracia segundo a cartilha do New Public Management, cujo objectivo não é melhorar a qualidade do ensino e das aprendizagens, mas tão só desinvestir na Educação e cortar nos salários de quem trabalha...

Os professores não são parvos e sabem que o objectivo, independentemente do seu desempenho, é serem lixados na carreira e no vencimento. Pensavam que nos arrebanhavam para assinar a própria precarização profissional, mas enganaram-se. Vão ter guerra até mais não.

A começar pela não entrega dos Objectivos Individuais por parte dos avaliados («recusar-se a assinar qualquer documento relacionado com a avaliação que não esteja previsto na legislação, o que inclui não assinar qualquer papel em que se negue a ser avaliado»). Os avaliadores têm muita formas de colocar um pau na engrenagem.

Todavia, hoje, os sindicatos não deveriam ter oferecido o flanco com uma proposta baseada na auto-avaliação, apesar de ser transitória (e aberta a negociação) para os meses que faltam a este ano lectivo, deveriam ter incluído a participação da direcção da escola e aulas assistidas - nem que fosse uma. Os professores não receiam ser avaliados. Já o foram antes, na Universidade e no estágio.

A ministra aproveita qualquer oportunidade para intransigir e até provocar os professores. Aos sindicatos e os professores pede-se inteligência política, serenidade ("é inesgotável a nossa vontade de negociar", disse muito bem a Plataforma- não fechar nunca a porta do diálogo) mas dar uma luta longa e duríssima.

Outras leituras:
UPM e Óbvio desacordo
Ruptura total e definitiva: falta de confiança

Recorde-se:
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